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guimarães rosa - Academia Mineira de Letras

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Sílvia Rubião: a contida linguagem da emoção ___________________________________________ Fábio Lucas 251<br />

inútil”, no poema seguinte, “Repouso”, começa-se pela pergunta-e-resposta<br />

surpreen<strong>de</strong>nte e paradoxal: “Conheces a trilha do inferno?/ Leva-me.” Basta<br />

esse enunciado inicial para contrariar a expectativa criada pelo título do poema,<br />

“Repouso”. O <strong>de</strong>sconforto existencial explo<strong>de</strong> ao término da composição:<br />

“Deixa repousar ali/ meu coração vassalo/ o tempo <strong>de</strong> uma noite quente/ e sem<br />

Deus.”<br />

O tema da ausência da pessoa amada é forte nos poemas <strong>de</strong> Sílvia<br />

Rubião. Daí não ser surpresa uma composição com o título “Partida” (p. 27),<br />

sugestão que se repete a seguir, no poema “Voragem” (p. 28), inserido na<br />

quarta capa, cujo término é: “E ao partires na voragem da noite/ repara a<br />

<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m das estrelas.” Diga-se que a idéia da <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m mais <strong>de</strong> uma vez<br />

magnifica o texto.<br />

Seguinte a “Voragem” temos o poema “Ausência”, que assim se encerra:<br />

“O armário aberto/ o cabi<strong>de</strong> <strong>de</strong>pendurado/ a toalha molhada/ o copo vazio/ um<br />

rastro <strong>de</strong> aromas/ Tanta presença/ tanta ausência.” Uma das mais belas<br />

composições do conjunto. Tão perfeita na sua resumida essência quanto<br />

“Tangências”, <strong>de</strong> amplo fôlego, que empresta o nome à obra. Os poemas<br />

“Círculo”, “Fim <strong>de</strong> tudo”, “Por muito pouco” dramatizam o <strong>de</strong>sencontro e a<br />

perda, exploram aquele tema que Rodin esculpiu com o título Fugit amor.<br />

O livro Tangência se fecha sintomaticamente com o poema “Solidão”,<br />

segundo se <strong>de</strong>clara no primeiro verso: “A solidão tem asas <strong>de</strong> ferro”, ainda que<br />

se reconheça, no final, tratar-se <strong>de</strong> “Florada sem cor”. As amostras acima<br />

bastam para indicar o alto po<strong>de</strong>r imagístico <strong>de</strong> Sílvia Rubião e traduzem a<br />

tensão dramática com que os poemas se constroem.

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