guimarães rosa - Academia Mineira de Letras
guimarães rosa - Academia Mineira de Letras
guimarães rosa - Academia Mineira de Letras
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Tijuco – lendas e tradições ____________________________________________________ Edgar Matta Machado 173<br />
um povo irmão. E quantas vezes a maldição dos perseguidos tombou sobre o<br />
metal e a pedra que o convencionalismo e o luxo valorizaram!<br />
Quanta lágrima, quanto soluço poupado, quanta injustiça inclemente, não<br />
se teria consumado se o solo abençoado daquela terra não tivesse escondidas<br />
essas preciosida<strong>de</strong>s inúteis!<br />
Bandos <strong>de</strong> aventureiros que a ambição movia <strong>de</strong>stemidos e fortes,<br />
embrenhavam-se pelas florestas seculares e virgens, afrontando sacrifícios e<br />
perigos, sem que nada os <strong>de</strong>tivesse na carreira maldita, indo ao recesso íntimo<br />
das tabas arrancar o gentio leal para o martírio sem nome do cativeiro perpétuo.<br />
A resistência natural agindo, travavam-se mortíferas guerras e o solo da<br />
Pátria bebia o primeiro sangue iniquamente <strong>de</strong>rramado; num <strong>de</strong>sprezo cruel<br />
para com todas as leis da Justiça e da Moral, esses bandos ferozes arrancavam<br />
das Missões Jesuíticas os selvagens que se haviam entregado à catequese e que<br />
abraçavam a religião Santíssima da Cruz.<br />
Foi numa <strong>de</strong>ssas correrias injustificáveis, que um aventureiro encontrou<br />
a primeira mina <strong>de</strong> oiro, e espalhada essa nova, <strong>de</strong> todos os pontos da colônia<br />
afluíram homens na procura difícil do precioso metal.<br />
O primeiro oiro foi encontrado na Capitania <strong>de</strong> São Paulo e as ban<strong>de</strong>iras<br />
que se formavam buscavam os <strong>de</strong>sertos, revolvendo terras, <strong>de</strong>sviando rios,<br />
penetrando em cavernas, na se<strong>de</strong> insaciável <strong>de</strong> riquezas, <strong>de</strong> régias fortunas, <strong>de</strong><br />
opulências Nababescas.<br />
Para Minas dirigiram-se diversas ban<strong>de</strong>iras e em vários pontos da<br />
Capitania o metal amarelo brilhou no fundo das bateias; na comarca do Serro<br />
Frio, <strong>de</strong>scobriram-se riquíssimas jazidas, mas a nevrose do oiro impelia esses<br />
homens a novas <strong>de</strong>scobertas, como se não houvesse na terra riqueza bastante<br />
para saciar-lhes a ambição sem limites.<br />
Nas Memórias do Distrito Diamantino, do finado e saudoso dr. Joaquim<br />
Felício dos Santos, o único importante manancial <strong>de</strong> crônica do Tijuco,<br />
encontra-se a <strong>de</strong>scrição minuciosa da <strong>de</strong>scoberta das lavras e fundação do<br />
Tijuco.<br />
Portugueses, mamelucos e sertanistas <strong>de</strong> São Paulo, vindos não se sabe<br />
ao certo <strong>de</strong> on<strong>de</strong>, chegaram em uma tar<strong>de</strong> fatigados da mais penosa das<br />
viagens, por uma das regiões mais agrestes da Capitania, à confluência <strong>de</strong><br />
dois córregos, sem que um juízo qualquer os impelisse a tomar esse ou aquele<br />
caminho, esses homens ru<strong>de</strong>s, fatalistas como todos que levam essa<br />
vida arriscada <strong>de</strong> nôma<strong>de</strong>, confiantes no acaso, <strong>de</strong>sfraldaram a ban<strong>de</strong>ira que<br />
tomou a direção da nascente <strong>de</strong> um dos córregos, posteriormente <strong>de</strong>nominado<br />
Pururuca.