13.05.2013 Views

as arquitecturas de cister em portugal. a actualidade ... - Ubi Thesis

as arquitecturas de cister em portugal. a actualidade ... - Ubi Thesis

as arquitecturas de cister em portugal. a actualidade ... - Ubi Thesis

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

194<br />

4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊS<br />

que foi pensado para acolher e respon<strong>de</strong>r a<strong>de</strong>quadamente às exigênci<strong>as</strong><br />

funcionais <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s monástic<strong>as</strong> isolad<strong>as</strong>, <strong>de</strong> vida se<strong>de</strong>ntária e<br />

autosuficientes seguindo o princípio da autarcia. O trabalho dos monges<br />

<strong>cister</strong>cienses juntamente com a sábia administração d<strong>as</strong> terr<strong>as</strong> tornaram os<br />

solos difíceis, m<strong>as</strong> bons, <strong>em</strong> bosques florescentes ou <strong>em</strong> terr<strong>as</strong> <strong>de</strong> cultivo por<br />

excelência. Como refere o monge beneditino Gérald <strong>de</strong> Galles (1188):<br />

“Donnez a ces moines une lan<strong>de</strong> dénudée ou un bois sauvage, puis<br />

laissez p<strong>as</strong>ser quelques années, et vous trouverez non seul<strong>em</strong>ent <strong>de</strong><br />

superbes églises, mais <strong>de</strong> habitations humaines qui se sont bâties<br />

autour d’elles.” 8<br />

Ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong>ste trabalho v<strong>as</strong>to, eficaz e transformador do território é a Abadia<br />

<strong>de</strong> Dunes, na Flandres, na qual o trabalho dos monges chega mesmo a<br />

rectificar parcialmente o traçado da costa do Mar do Norte. O espaço<br />

monástico po<strong>de</strong>-se constituir como um organismo territorial apropriando-se do<br />

território, mo<strong>de</strong>lando-o e alterando-o conforme <strong>as</strong> su<strong>as</strong> necessida<strong>de</strong>s e cujo<br />

espaço arquitectónico é edificado consoante <strong>as</strong> necessida<strong>de</strong>s do espírito e do<br />

corpo. Quer na sua vertente física, como na vertente i<strong>de</strong>al, este é o lugar<br />

construído pelos homens e or<strong>de</strong>nado segundo a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus.<br />

O mosteiro <strong>cister</strong>ciense é símbolo do mo<strong>de</strong>lo económico da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong><br />

Cister b<strong>as</strong>eado na autarcia e no <strong>de</strong>spojamento <strong>de</strong> bens. Os monges <strong>de</strong> seu<br />

nada possuíam, ou pelo menos <strong>as</strong>sim foi o i<strong>de</strong>al <strong>cister</strong>ciense na sua génese pois<br />

“O sustento dos monges da nossa Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>ve provir do trabalho d<strong>as</strong> su<strong>as</strong><br />

mãos, do cultivo d<strong>as</strong> terr<strong>as</strong>, da criação <strong>de</strong> animais (...)” 9<br />

Sendo <strong>as</strong>sim, <strong>de</strong>pois do local escolhido e da acção <strong>cister</strong>ciense ter sido<br />

iniciada, construindo e modificando o território,<br />

“(…) <strong>as</strong> b<strong>as</strong>es do edifício <strong>cister</strong>ciense estão solidamente<br />

construíd<strong>as</strong>: este património, sabiamente gerido, transformou-se<br />

numa paisag<strong>em</strong> que, a pouco e pouco, se foi or<strong>de</strong>nando,<br />

organizada para produzir, para que o mel e o azeite sejam<br />

extraídos, cada vez mais abundantes, d<strong>as</strong> pedr<strong>as</strong> e dos<br />

rochedos.” 10<br />

Em arquitectura, o local escolhido <strong>de</strong>termina o processo <strong>de</strong> concepção, quer a<br />

nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho, quer a nível da sua própria construção, pelo que o carácter<br />

da própria obra arquitectónica exprime e reflecte o modo <strong>de</strong> pensar e <strong>de</strong> a<br />

viver. Deste modo, no que respeita a arquitectura <strong>cister</strong>ciense, surge uma<br />

8 Ver. COCHERIL, Dom Maur; Introduction in BRONSEVAL, Frère Clau<strong>de</strong> <strong>de</strong> ; “Peregrinatio Hispanica. Voyage<br />

<strong>de</strong> Dom È<strong>de</strong>me <strong>de</strong> saulieu, Abbé <strong>de</strong> Clairvaux, en Espagne et au Portugal (1531-1533)”; (ed. Dom Maur<br />

Cocheril); PUF; Paris; 1970; p. 28<br />

9 Ver Capitula, cap. XV in CISTER: os Documentos Primitivos; Tradução, Introduções e Comentários <strong>de</strong> Aires A.<br />

N<strong>as</strong>cimento; Edições Colibri; Lisboa; Março 1999; p. 59<br />

10 Cit. DUBY, Georges; Op. cit.; p.120

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!