13.05.2013 Views

as arquitecturas de cister em portugal. a actualidade ... - Ubi Thesis

as arquitecturas de cister em portugal. a actualidade ... - Ubi Thesis

as arquitecturas de cister em portugal. a actualidade ... - Ubi Thesis

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

196<br />

4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊS<br />

A <strong>de</strong>terminação do sítio <strong>cister</strong>ciense medieval <strong>de</strong>via estimular e a<strong>de</strong>quarse<br />

a uma vida <strong>de</strong> espiritualida<strong>de</strong>, clausura, recolhimento, <strong>as</strong>cetismo, oração e<br />

trabalho dos monges. As áre<strong>as</strong> <strong>de</strong> vale amen<strong>as</strong> têm um papel fundamental na<br />

organização e na dinâmica da vida <strong>cister</strong>ciense. Para aproveitar melhor os seus<br />

recursos endógenos, os monges or<strong>de</strong>naram a paisag<strong>em</strong> circundante <strong>de</strong> modo<br />

a garantir a estrutura do sist<strong>em</strong>a produtivo e a sua própria subsistência.<br />

Esta vivência <strong>as</strong>cética, espiritual, <strong>de</strong>terminada e poética advém da<br />

força patente nos valores ambientais, paisagísticos e mesmo ecológicos on<strong>de</strong><br />

“se apren<strong>de</strong>m mais cois<strong>as</strong> do que nos livros”, como refere S. Bernardo e que<br />

configuram a sã vivência inserida no Paradisum Claustralis. Note-se que muitos<br />

dos mosteiros <strong>cister</strong>cienses adoptaram nomes que etimologicamente se<br />

reportam às característic<strong>as</strong> naturais dos locais on<strong>de</strong> se inseriam primitivamente<br />

(são ex<strong>em</strong>plos: água, luz, paz, beleza, alegria, entre outros). Estes são os motivos<br />

e os requisitos imprescindíveis para a escolha do lugar para a fundação ou<br />

filiação <strong>de</strong> um mosteiro aliando o factor utilitário ao espiritual.<br />

Com o intuito <strong>de</strong> garantir a vocação e a suficiência <strong>de</strong>st<strong>as</strong> condições, os<br />

sítios eram inspeccionados, previamente ao acto <strong>de</strong> anuência do novo<br />

estabelecimento monástico, por dois ou três aba<strong>de</strong>s <strong>de</strong>legados do Capítulo<br />

Geral. Era edificado um muro <strong>de</strong> clausura, a cerca, para lá do qual se<br />

domesticava a natureza.<br />

O mito da fundação no “<strong>de</strong>serto” é hoje criticado por alguns historiadores<br />

pois um consi<strong>de</strong>rável número <strong>de</strong> fundações, no seu início, reutilizaram antig<strong>as</strong><br />

estrutur<strong>as</strong> conventuais obtid<strong>as</strong> por doação e apen<strong>as</strong> mais tar<strong>de</strong> se <strong>de</strong>slocam<br />

para outro local. As circunstânci<strong>as</strong> do local, a par <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminad<strong>as</strong><br />

necessida<strong>de</strong>s e coincidênci<strong>as</strong> do momento, explicam que alguns locais sejam<br />

tudo menos um “<strong>de</strong>serto”, como é o c<strong>as</strong>o <strong>de</strong> Alcobaça, nos termos da<br />

fundação real <strong>de</strong> 1153, encabeçando uma colónia populacional <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />

uma zona ainda muçulmana. 12 Ou ainda como refere Duby:<br />

“Muit<strong>as</strong> vezes, nos locais on<strong>de</strong> os <strong>cister</strong>cienses se instalaram, existia<br />

já, s<strong>em</strong> dúvida, um pequeno espaço ajardinado, tratado por um<br />

er<strong>em</strong>ita aí anteriormente instalado; m<strong>as</strong> não p<strong>as</strong>sava <strong>de</strong> uma<br />

clareira aberta no meio do espaço inculto. Tudo permanecia por<br />

fazer.” 13<br />

As primeir<strong>as</strong> caban<strong>as</strong> <strong>em</strong> ma<strong>de</strong>ira cedo foram substituíd<strong>as</strong> por monumentais e<br />

imponentes construções <strong>em</strong> pedra erigid<strong>as</strong> segundo os mol<strong>de</strong>s contidos na<br />

Carta <strong>de</strong> Carida<strong>de</strong>, plano <strong>de</strong> conduta espiritual e física da Or<strong>de</strong>m. O capítulo<br />

IX dos Capitula refere que:<br />

12 Ver PRESSOUYRE, León; Le Rêve Cistercien; col. Découverts Gallimard; nº 95; Ed. Gallimard; Paris; 1998; p. 34<br />

13 Cit. DUBY, Georges; Op. cit.; p.118

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!