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as arquitecturas de cister em portugal. a actualidade ... - Ubi Thesis

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214<br />

4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊS<br />

Uma cida<strong>de</strong> i<strong>de</strong>al, tal como a micro-cida<strong>de</strong> que é o mosteiro, consiste<br />

sobretudo numa elaboração <strong>de</strong>scritiva e mítica <strong>de</strong> uma organização social,<br />

política e económica <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong> humana. 42<br />

Segundo a Regra <strong>de</strong> S. Bento o mosteiro <strong>de</strong>veria dar resposta às<br />

necessida<strong>de</strong>s materiais e espirituais dos monges b<strong>as</strong>eando-se no princípio da<br />

autarcia e da auto-suficiência. Deste modo o mosteiro <strong>as</strong>sume-se como uma<br />

cida<strong>de</strong> in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte.<br />

O espaço monástico é <strong>as</strong>sim o reflexo <strong>de</strong> um i<strong>de</strong>al, <strong>de</strong> uma visão do<br />

mundo, <strong>de</strong> um sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> valores que tudo organiza e mo<strong>de</strong>la. Razões <strong>de</strong><br />

or<strong>de</strong>m espiritual e material exerc<strong>em</strong> um papel <strong>de</strong>cisivo na escolha dos locais <strong>de</strong><br />

edificação <strong>de</strong> cada mosteiro da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister.<br />

O mosteiro não é apen<strong>as</strong> um paraíso na terra, também os locais<br />

escolhidos pelos <strong>cister</strong>cienses se tornaram, através da sua domesticação,<br />

paraísos terrestres.<br />

Eles tornaram os mais <strong>de</strong>sertos e inóspitos locais (Deuteronómio 32,10) 43 <strong>em</strong><br />

“paraísos”, criando no seu seio a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus, utilizando para isso diversos<br />

recursos, dos quais se <strong>de</strong>staca, pela sua importância, a hidráulica <strong>cister</strong>ciense.<br />

Tal como relatam os documentos primitivos <strong>de</strong> Cister:<br />

“(...) <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> muit<strong>as</strong> canseir<strong>as</strong> e grandíssim<strong>as</strong> dificulda<strong>de</strong>s que há<br />

que suportar por parte <strong>de</strong> quantos preten<strong>de</strong>m viver santamente <strong>em</strong><br />

Cristo conseguiram por fim ver realizado o seu <strong>de</strong>sejo e chegaram a<br />

Cister.<br />

Era este local «o sítio <strong>de</strong> horror e v<strong>as</strong>ta <strong>de</strong>solação», m<strong>as</strong><br />

consi<strong>de</strong>rando aqueles soldados <strong>de</strong> Cristo que a dureza do lugar<br />

não estava <strong>em</strong> dissintonia com o rigor do seu propósito e do<br />

projecto que haviam concebido no seu espírito como se aquele<br />

lugar lhes tivesse sido preparado pela vonta<strong>de</strong> divina, tomaram-no<br />

<strong>em</strong> tanta maior estima quanto mais amor tinham pelo seu<br />

propósito.” 44<br />

Este espaço, conquistado à natureza, no qual o hom<strong>em</strong> impõe uma or<strong>de</strong>m<br />

para aí viver <strong>em</strong> comunida<strong>de</strong>, orando e trabalhando, estabelecendo um<br />

vínculo com o Sagrado e com o sobrenatural, é um espaço or<strong>de</strong>nado segundo<br />

a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus.<br />

42 Cfr. MARTINS, Ana Maria Tavares; Op. cit.; p.13<br />

43 (O Senhor) achou-o numa terra do <strong>de</strong>serto, num sítio <strong>de</strong> terror e <strong>de</strong> isolamento imenso, volteou <strong>em</strong> torno<br />

<strong>de</strong>le para lhe chamar a atenção e <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u-o como se fosse a pupila dos seus olhos<br />

44 Cit. Exordium Cistercii, cap. I in “CISTER: os Documentos Primitivos”; Tradução, Introduções e Comentários<br />

<strong>de</strong> Aires A. N<strong>as</strong>cimento; Edições Colibri; Lisboa; Março 1999; pp.49-50

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