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desculpas] e “Ifs and Cans” [Se e o que é possível] podem ser vistos como a
reelaboração no campo de pensamento já feito por Kant e outros no século
XVIII. d O ponto básico é que imputamos às pessoas todas as consequências
de suas ações ou inações que podem ser trazidas para dentro da esfera da
percepção em primeira pessoa e da livre escolha — que elas não podem
prestar contas como “minhas”, e pelas quais podem ser chamadas a
assumirem como se fossem o “seu feito”.
Essa observação nos faz lembrar que o mundo das obrigações e dos
direitos não é uma imposição artificial elaborada para servir o propósito de
algum poder soberano, mas, ao contrário, trata-se do crescimento natural do
encontro eu-você. Juristas como Samuel Pufendorf e Hugo Grócio não
estavam simplesmente explicando os termos técnicos da lei romana. Para
eles, isso era uma atividade secundária, que fazia sentido apenas no
contexto de um relato mais abrangente dos princípios naturais pelos quais
os seres humanos vinculam a si mesmos em obrigações e direitos
reconhecidos, realizam acordos e resolvem disputas. Da mesma forma, o
relato da moralidade feito por Adam Smith, nos termos da decisão
ponderada do “espectador imparcial”, é uma generalização dos princípios
que sustentam não apenas o discurso moral cotidiano, mas também a
common law. E ele resume os princípios dos contratos, em suas palestras
sobre a jurisprudência, ao dirigir-se diretamente sobre as obrigações
contidas em uma promessa. Ele argumenta que, se uma promessa for aberta
e claramente declarada, ela induz a uma expectativa razoável que deve ser
realizada. Essa expectativa é tamanha que, assim como Smith escreve, e “um
espectador imparcial deveria também acreditar nela”, e é isso o que faz o
contrato se tornar obrigatório, mesmo quando não há um aparato legal para
cumpri-la. Em todos os nossos acordos, não existem apenas eu e você, mas
também ele ou ela — em outras palavras, um agente aos olhos do
espectador, um objeto de julgamento, incluindo aí o julgamento feito por
nós mesmos. E isso é também o resultado inescapável da relação eu-você.
Ao me ver como um você sob seus olhos, sou levado para fora de mim