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A alma do mundo - Roger Scruton

conservadorismo filosofia política

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desculpas] e “Ifs and Cans” [Se e o que é possível] podem ser vistos como a

reelaboração no campo de pensamento já feito por Kant e outros no século

XVIII. d O ponto básico é que imputamos às pessoas todas as consequências

de suas ações ou inações que podem ser trazidas para dentro da esfera da

percepção em primeira pessoa e da livre escolha — que elas não podem

prestar contas como “minhas”, e pelas quais podem ser chamadas a

assumirem como se fossem o “seu feito”.

Essa observação nos faz lembrar que o mundo das obrigações e dos

direitos não é uma imposição artificial elaborada para servir o propósito de

algum poder soberano, mas, ao contrário, trata-se do crescimento natural do

encontro eu-você. Juristas como Samuel Pufendorf e Hugo Grócio não

estavam simplesmente explicando os termos técnicos da lei romana. Para

eles, isso era uma atividade secundária, que fazia sentido apenas no

contexto de um relato mais abrangente dos princípios naturais pelos quais

os seres humanos vinculam a si mesmos em obrigações e direitos

reconhecidos, realizam acordos e resolvem disputas. Da mesma forma, o

relato da moralidade feito por Adam Smith, nos termos da decisão

ponderada do “espectador imparcial”, é uma generalização dos princípios

que sustentam não apenas o discurso moral cotidiano, mas também a

common law. E ele resume os princípios dos contratos, em suas palestras

sobre a jurisprudência, ao dirigir-se diretamente sobre as obrigações

contidas em uma promessa. Ele argumenta que, se uma promessa for aberta

e claramente declarada, ela induz a uma expectativa razoável que deve ser

realizada. Essa expectativa é tamanha que, assim como Smith escreve, e “um

espectador imparcial deveria também acreditar nela”, e é isso o que faz o

contrato se tornar obrigatório, mesmo quando não há um aparato legal para

cumpri-la. Em todos os nossos acordos, não existem apenas eu e você, mas

também ele ou ela — em outras palavras, um agente aos olhos do

espectador, um objeto de julgamento, incluindo aí o julgamento feito por

nós mesmos. E isso é também o resultado inescapável da relação eu-você.

Ao me ver como um você sob seus olhos, sou levado para fora de mim

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