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A alma do mundo - Roger Scruton

conservadorismo filosofia política

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Retornarei ao assunto do sagrado. Mas esses poucos comentários pedem

observações que serão importantes para o meu raciocínio nos próximos dois

capítulos. Parece-me que existem dois caminhos ao falarmos sobre teologia:

o cosmológico e o psicológico. Podemos especular sobre a natureza e a

origem do mundo, em busca do Ser de quem a ordem natural depende. E

podemos especular sobre a experiência da santidade, na qual os indivíduos

encontram outra ordem de coisas, uma intrusão no mundo natural em uma

esfera que vai “além” dele. Ambos os caminhos apontam rumo ao

supranatural. Não poderia haver uma explicação do mundo como um todo

em termos naturais já que a explicação deve ir além do reino da natureza em

direção ao seu fundamento transcendental. Não poderia haver uma narrativa

da santidade — do “numinoso” — que não relacionasse a experiência com

um sujeito transcendental. A experiência de coisas sagradas é, como sugeri,

uma espécie de encontro interpessoal. É como se você se dirigisse (e fosse

dirigido) por outro Eu, mas um Eu que não possui personificação na ordem

natural. A sua experiência tem um alcance “muito além” do reino empírico,

rumo a um lugar que está no seu horizonte. Essa ideia é encontrada de

forma vívida nos Upanishads, em que Brâman, o princípio criativo, é

representado como transcendente e universal, e também como atman, o self

pelo qual todos os nossos eus separados aspiram ser absorvidos e

unificados.

A resposta cética a essas observações é dizer que elas são ilusórias. É

uma ilusão afirmar que o mundo natural tem outra explicação exceto por si

mesmo. Pois o que é uma explicação senão a demonstração de que algum

fenômeno pertence à ordem natural, a ordem da causa e efeito tal como ela

é explicada pela ciência? É uma ilusão afirmar que existem coisas sagradas,

momentos sagrados, mistérios divinos, já que explicamos isso como

explicamos todo o resto, ao mostrarmos seu lugar na ordem da natureza.

Essas experiências surgem da pressão da vida social, que nos leva a ler

intenção, razão e desejo em tudo o que nos rodeia, para que, ao não

encontrarmos causa humana para aquilo que nos afeta profundamente,

imaginamos, em vez disso, uma causa divina.

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