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A alma do mundo - Roger Scruton

conservadorismo filosofia política

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primeiras casas que ficavam no jardim de Ártemis, exceto os templos dos

deuses, as salas de assembleia e a biblioteca pública, que devia ser o

símbolo de seu orgulho cívico e pelo qual declaravam que o que lhes

importava mais depois dos deuses era a ideia da Grécia. E assim decretaram

que todas as construções em Cólofon, fosse uma casa, uma loja ou um

templo, fossem erguidas em pedra e em um estilo que existisse no livro dos

padrões dos colofonenses…

“O livro dos padrões não proibia inovações, mas as controlava, supondo

que as atitudes de rompimento já tinham acontecido — e que a cidade

precisava de um trabalho de consolidação. A arquitetura não pode progredir

como a música e a poesia, que se conformam somente à necessidade do

gênio. Ela é um empreendimento público: o arquiteto não constrói para um

cliente específico, mas para a cidade. Todos nós somos compelidos a viver

com o resultado, que, portanto, não pode ser ofensivo a ninguém. A

originalidade deve estar subordinada aos bons modos. Esse exemplo não é

diferente em relação ao vestuário, que deve ser original apenas se estiver

adequado. O livro dos padrões é o resultado de um longo processo de

tentativa e erro, no qual a aparência da cidade e os sentimentos dos cidadãos

foram gradualmente se conciliando, e uma relação de agradável conversa

foi estabelecida entre os edifícios e os transeuntes…

“Mas não identifiquei a verdadeira diferença entre a Cólofon antiga e a

moderna, ou o verdadeiro caminho em que moldamos ou somos moldados

por nossos edifícios. Parece-me que essas coisas não podem ser

compreendidas em termos seculares. Nossa arquitetura vem do templo, pelo

mesmo motivo que a cidade nasce do seu deus. A pedra do templo é a

tradução terrena da imortalidade do deus, que, por sua vez, é o símbolo de

uma comunidade e de sua vontade de viver. Como a liturgia, o templo é

para sempre, e a comunidade contém não apenas os vivos, mas também os

mortos e os não nascidos. E os mortos são protegidos pelo templo, que os

imortaliza na pedra. Isso é o que você entende instintivamente quando olha

para a arquitetura religiosa. E esse é o sentimento com o qual as cidades

crescem — a vontade da tribo de permanecer…

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