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Damos forma aos nossos arredores como um lar pelo cultivo, pela
construção, arrumando o mundo. Valores estéticos governam cada forma de
assentamento, e são os nômades, aqueles que “estão de passagem”, que não
reconhecem responsabilidade pelo modo como as coisas aparecem ao seu
redor. O rosto da natureza, como vemos nas grandes pinturas de paisagem
de Constable e de Crome, de Courbet e de Corot, é um rosto virado em
nossa direção, dando e recebendo tanto as carrancas como os sorrisos. E
artistas subsequentes mostraram outro tipo de expressão, explicitada diante
do rosto da natureza por causa do desejo urgente de encontrar o que
realmente estava ali, independentemente dos mitos e das histórias. Nos
quadros de Van Gogh, árvores, flores, pomares, campos e edifícios se abrem
à pincelada do pintor, em algo similar à forma como um rosto humano se
abre em resposta a um sorriso, para revelar uma intensa vida interior e a
afirmação do ser. Por todo o século XIX, artistas, poetas e compositores
estavam dessa forma explorando e implorando pelo rosto da natureza,
ansiosos por um encontro direto do eu-com-o-eu. O desejo de perpetuar
esse rosto e de salvá-lo de máculas desnecessárias motivou o movimento
ambiental, que foi (pelo menos, em suas origens) a expressão política de
uma sensibilidade profundamente romântica. k
Se o meu raciocínio neste capítulo estiver correto, ele pode ser
generalizado para cobrir todo o habitat humano: não apenas a cidade, mas o
ambiente onde ela está localizada, e a paisagem que a circunda. A
degradação ambiental vem exatamente da mesma forma que a degradação
moral, através das pessoas e dos lugares representados de maneira
impessoal, como objetos a serem usados em vez de sujeitos a serem
respeitados. O senso de beleza coloca um freio na destruição, ao representar
o seu objeto como algo insubstituível. Quando o mundo volta-se para mim
com os meus olhos, como ocorre na experiência estética, ele também se
dirige à minha pessoa de outro modo. Algo me é revelado, me faz ficar
diante dele e absorvê-lo. É claro que não faz nenhum sentido sugerir que
existem ninfas nas árvores e dríades nos bosques. O que me é revelado na