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A alma do mundo - Roger Scruton

conservadorismo filosofia política

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Damos forma aos nossos arredores como um lar pelo cultivo, pela

construção, arrumando o mundo. Valores estéticos governam cada forma de

assentamento, e são os nômades, aqueles que “estão de passagem”, que não

reconhecem responsabilidade pelo modo como as coisas aparecem ao seu

redor. O rosto da natureza, como vemos nas grandes pinturas de paisagem

de Constable e de Crome, de Courbet e de Corot, é um rosto virado em

nossa direção, dando e recebendo tanto as carrancas como os sorrisos. E

artistas subsequentes mostraram outro tipo de expressão, explicitada diante

do rosto da natureza por causa do desejo urgente de encontrar o que

realmente estava ali, independentemente dos mitos e das histórias. Nos

quadros de Van Gogh, árvores, flores, pomares, campos e edifícios se abrem

à pincelada do pintor, em algo similar à forma como um rosto humano se

abre em resposta a um sorriso, para revelar uma intensa vida interior e a

afirmação do ser. Por todo o século XIX, artistas, poetas e compositores

estavam dessa forma explorando e implorando pelo rosto da natureza,

ansiosos por um encontro direto do eu-com-o-eu. O desejo de perpetuar

esse rosto e de salvá-lo de máculas desnecessárias motivou o movimento

ambiental, que foi (pelo menos, em suas origens) a expressão política de

uma sensibilidade profundamente romântica. k

Se o meu raciocínio neste capítulo estiver correto, ele pode ser

generalizado para cobrir todo o habitat humano: não apenas a cidade, mas o

ambiente onde ela está localizada, e a paisagem que a circunda. A

degradação ambiental vem exatamente da mesma forma que a degradação

moral, através das pessoas e dos lugares representados de maneira

impessoal, como objetos a serem usados em vez de sujeitos a serem

respeitados. O senso de beleza coloca um freio na destruição, ao representar

o seu objeto como algo insubstituível. Quando o mundo volta-se para mim

com os meus olhos, como ocorre na experiência estética, ele também se

dirige à minha pessoa de outro modo. Algo me é revelado, me faz ficar

diante dele e absorvê-lo. É claro que não faz nenhum sentido sugerir que

existem ninfas nas árvores e dríades nos bosques. O que me é revelado na

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