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A alma do mundo - Roger Scruton

conservadorismo filosofia política

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ou não fazer, são comunidades que não oferecem mais segurança às suas

crianças.

Mas o que me preocupa não é a justificativa exterior do casamento: é,

em vez disso, a sua lógica interna, o que seria o ponto de vista daqueles que

adentram nele. Um voto é como um contrato, que se torna um

empreendimento voluntário de seres livres. Mas é diferente de um contrato

por não ter termos delimitados e ao alongá-lo indefinidamente no tempo.

Tem um caráter “transcendente”, e esse traço é frequentemente registrado

pelos participantes por um convite ou uma invocação aos deuses. Você

chama os deuses como testemunhas para a realização de um voto, e,

portanto, dá ao seu empreendimento um tipo diferente de permanência que

poderia se vincular a qualquer contrato — está escrito nos céus ou inscrito

nas runas da lança de Wotan. l Um outro modo de expressar esse tópico é

afirmar que os votos, pelo menos aqueles que formam uma relação, têm

uma qualidade sacramental. Seres sagrados estão presentes desde a sua

concepção e supervisionam seu curso. Isso pode ser testemunhado em todos

os ritos de passagem familiares a nós — apesar de ser controverso no

cristianismo (e esse foi um dos pontos mais discutidos entre católicos e

protestantes) se o casamento pode ser realmente visto como um sacramento,

comparado ao batismo e à comunhão.

O segundo contraste que me interessa é aquele entre justiça e devoção.

Uma obrigação de justiça é devida ao outro porque ele tem direito a ela, ou

porque a merece. Os direitos e os deveres são privilégios comparáveis, mas

não idênticos: os direitos são, como um todo, benefícios positivos para

aquele que os mantém, enquanto os deveres podem ser negativos, como, por

exemplo, uma punição merecida. Se todas as suas obrigações surgem de

empreendimentos, no modo suposto por Searle, então seria natural assumir

que se tratam de obrigações de justiça. Mas não é assim que ocorre.

Existem obrigações de devoção — que nunca foram empreendidas, mas que

são devidas aos outros em reconhecimento dos seus privilégios, ou em

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