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A alma do mundo - Roger Scruton

conservadorismo filosofia política

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os mistérios da vida “interior”, que faz as pessoas abraçarem algum tipo de

dualismo ontológico e acreditarem que o ser humano não é apenas uma

única coisa, mas duas. Sugeri que há um dualismo cognitivo, mas não um

dualismo ontológico, sublinhando a nossa resposta ao mundo humano. O

encontro eu-você não é precisamente um encontro entre objetos, e, portanto,

não é um encontro entre objetos de um tipo especial e ontologicamente

primitivo. É um encontro entre sujeitos, que pode ser compreendido apenas

se reconhecermos que a lógica da consciência em primeira pessoa é

construída dentro de conceitos através dos quais nossos acordos mútuos são

feitos.

Então, onde devemos buscar pessoas neste mundo? O que sugeri é que

não estamos à procura de um tipo especial de objeto, mas, sim, por um

objeto pelo qual podemos responder de um modo especial. Os candidatos

óbvios são os seres humanos — membros da espécie natural Homo sapiens,

cuja constituição biológica define o modo como são. Mas e o exemplo em

primeira pessoa? Não é essencial para os seres humanos que se identificam

em primeira pessoa; ainda assim, é essencial para as pessoas. A consciência

em primeira pessoa é a premissa das relações interpessoais, e são dessas

mesmas relações que depende a nossa natureza como pessoas.

É por esse motivo que achamos tão intrigante a questão da identidade

pessoal. A literatura filosófica está repleta de experimentos imaginativos, de

John Locke e Thomas Reid a Sydney Shoemaker e Derek Parfit, que nos

lembram que a identidade da pessoa e a identidade do corpo podem ser

analisadas à parte. E parece estranho dizer que a pessoa é idêntica ao ser

humano, quando as condições que afirmam a identidade de um são

diferentes daquelas que afirmam a identidade do outro. Talvez o exemplo

seja como o da imagem e das telas, ou da melodia e da sequência de sons.

Talvez devêssemos dizer que uma determinada pessoa é reconhecida dentro

de um determinado ser humano, em vez de que ela é idêntica a ele —

abrindo assim a possibilidade de que uma única e mesma pessoa possa ser

reconhecida ora em um único corpo, ora em outro.

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