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A alma do mundo - Roger Scruton

conservadorismo filosofia política

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Deus transcendente com a presença verdadeira, por meio da doutrina da

Encarnação. Porém, vejo essa doutrina como outra história, que não explica

o mistério da presença de Deus, apenas a repete.

No entanto, há algo mais a ser dito sobre a relação entre Deus e homem.

Em diversos pontos da minha argumentação, mencionei o argumento de

Thomas Nagel sobre o fato de que, a não ser que haja leis teleológicas

profundas governando o mundo natural, é um acidente improvável que nós,

humanos, sejamos guiados por nossa razão em direção à verdade e ao bem.

Inclino-me mais à posição de Kant na Crítica da razão pura: a de que a

natureza do nosso conhecimento orientada à verdade é fundada de maneira

transcendental. Por isso quero dizer que sua validade é pressuposta, até

mesmo pelas tentativas de refutá-la. Não há como um ser racional até

mesmo considerar a ideia de que seu pensamento possa ser

sistematicamente falso, ou que não seja passível de correção segundo seus

princípios internos. Portanto, parece-me improvável que um exemplo possa

se basear na explicação de Nagel, no caso a existência de um universo

governado por causas finais.

Contudo, ao mesmo tempo, os sujeitos existem no espaço das razões, e

elas existem conforme os padrões de validade. Se não fosse assim, então a

lei natural, a common law e a ordem da aliança não teriam qualquer

fundação. Se quisermos determinar por causas finais as razões, os

significados e as formas de responsabilidade racional que nos possibilitam

viver como sujeitos em um mundo comum, logo é provocativo e infundado

negar que essas causas finais existam.

Segue aqui um modo de ver o assunto. As leis da física são leis de causa

e efeito, que relacionam condições complexas às condições anteriores e

mais simples das quais elas fluem. Os princípios teológicos, portanto, não

podem deixar nenhuma marca visível na ordem da natureza, como a física a

descreve. Contudo, é como se nós, humanos, nos orientássemos por tais

princípios, em vez de sermos animais que se orientam pelo campo

magnético da terra. Na ordem da aliança, somos levados a uma certa

direção, guiados por razões cuja autoridade é intrínseca a elas. Se olharmos

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