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A alma do mundo - Roger Scruton

conservadorismo filosofia política

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assumir obrigações que sabemos ser intransferíveis para qualquer um. E

tudo isso lemos no rosto.

Lemos essas coisas especialmente no olhar do amor no rosto do amado.

Nossas emoções sexuais são baseadas em pensamentos individualizados: é

você que eu quero e não o tipo ou padrão. Essa intencionalidade

individualizada não vem meramente do fato de que são as pessoas (em

outras palavras, indivíduos) a quem desejamos. Ela vem do fato de que o

outro é desejado como um sujeito corporificado, e não como um corpo. e E o

sujeito corporificado é o que vemos no rosto. Não preciso enfatizar até que

ponto nossa compreensão do desejo foi influenciada e de fato subvertida

pela literatura, de Havelock Ellis a Freud e aos relatórios Kinsey, e que

tinha a intenção de levantar o véu dos nossos segredos coletivos. Mas é

válido ressaltar que, se você descreve desejo nos termos que se tornaram

comuns — como a busca de sensações prazerosas nas partes privadas —,

então a esfera das relações sexuais se torna completamente

“desmoralizada”. A atrocidade e a impureza do estupro, por exemplo, se

tornam assim impossíveis de serem explicadas. Segundo esse ponto de

vista, o estupro é tão ruim quanto levar uma cuspida, mas não pior. Na

verdade, tudo o que envolve o comportamento sexual humano pode se

tornar ininteligível — e é apenas o “charme do desencantamento” que leva

as pessoas a receberem as descrições que agora estão na moda como se

fossem a verdade.

O desejo sexual, como foi entendido em qualquer época anterior ao

presente, é inerentemente comprometedor, e a escolha de expressá-lo ou a

ele ceder sempre foi vista como uma escolha existencial, na qual há mais

em risco do que a satisfação do momento. Não é de surpreender, portanto,

que o ato sexual tenha sido cercado de proibições; ele traz consigo um fardo

de vergonha, culpa e ciúme, assim como alegria e felicidade. Logo, o sexo

está profundamente implicado no senso de pecado original: o senso de

sermos separados do que verdadeiramente somos, por meio da nossa queda

no mundo dos objetos.

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