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A alma do mundo - Roger Scruton

conservadorismo filosofia política

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Até recentemente, era dado como certo que, se há um método nas

humanidades, não se trata do método da ciência. Não entendemos as peças

de Shakespeare com pesquisas e experimentos. Não interpretamos A arte da

fuga por meio de uma análise acústica, ou o David, de Michelangelo, com a

cristalografia de mármore. A arte, a literatura, a música e a história

pertencem ao Lebenswelt, o mundo que é formado pela nossa própria

consciência, e nós as estudamos não para explicar como surgiram, mas para

interpretar o que elas significam. A explicação tem um método, e trata-se do

método da ciência. A interpretação vai à procura de um método, mas nunca

está segura de ter encontrado algum. Desde o início do século XIX, fortes

afirmações foram feitas em nome da “hermenêutica”, da “fenomenologia”,

do “estruturalismo” — disciplinas que prometem o “método” desaparecido

por meio do qual o sentido é descoberto e explorado. Mas essas afirmações

têm uma tendência a evaporarem no momento do seu exame, para se

tornarem um pedido especial em nome de um conjunto particular de

autoridades, uma herança cultural particular ou um gosto estético particular.

Contudo, nas últimas duas décadas, o darwinismo invadiu o campo das

humanidades de um modo que o próprio Darwin jamais teria previsto. A

dúvida e a hesitação deram lugar à certeza, a interpretação ficou

subordinada à explicação, e todo o domínio da experiência estética e do

juízo literário foi reduzido como uma “adaptação”, uma parte da biologia

humana que existe em função do benefício que isso dá aos nossos genes.

Não há mais a necessidade de ficar confuso sobre o significado de uma

música ou sobre a natureza da beleza na arte. O sentido da arte e da música

está agora naquilo que podem fazer pelos nossos genes. Uma vez que nós

virmos que essas características da condição humana são adaptações, talvez

adquiridas há alguns milhares de anos, durante a época dos nossos

caçadores-coletores ancestrais, estaremos aptos a explicá-los. Saberemos o

que a arte e a música são em sua essência ao descobrirmos o que elas

fazem.

Vejamos a música, por exemplo. Uma mãe que canta para seu filho cria

um vínculo por meio da sua canção. Os dois balançam conforme o seu

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