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Até recentemente, era dado como certo que, se há um método nas
humanidades, não se trata do método da ciência. Não entendemos as peças
de Shakespeare com pesquisas e experimentos. Não interpretamos A arte da
fuga por meio de uma análise acústica, ou o David, de Michelangelo, com a
cristalografia de mármore. A arte, a literatura, a música e a história
pertencem ao Lebenswelt, o mundo que é formado pela nossa própria
consciência, e nós as estudamos não para explicar como surgiram, mas para
interpretar o que elas significam. A explicação tem um método, e trata-se do
método da ciência. A interpretação vai à procura de um método, mas nunca
está segura de ter encontrado algum. Desde o início do século XIX, fortes
afirmações foram feitas em nome da “hermenêutica”, da “fenomenologia”,
do “estruturalismo” — disciplinas que prometem o “método” desaparecido
por meio do qual o sentido é descoberto e explorado. Mas essas afirmações
têm uma tendência a evaporarem no momento do seu exame, para se
tornarem um pedido especial em nome de um conjunto particular de
autoridades, uma herança cultural particular ou um gosto estético particular.
Contudo, nas últimas duas décadas, o darwinismo invadiu o campo das
humanidades de um modo que o próprio Darwin jamais teria previsto. A
dúvida e a hesitação deram lugar à certeza, a interpretação ficou
subordinada à explicação, e todo o domínio da experiência estética e do
juízo literário foi reduzido como uma “adaptação”, uma parte da biologia
humana que existe em função do benefício que isso dá aos nossos genes.
Não há mais a necessidade de ficar confuso sobre o significado de uma
música ou sobre a natureza da beleza na arte. O sentido da arte e da música
está agora naquilo que podem fazer pelos nossos genes. Uma vez que nós
virmos que essas características da condição humana são adaptações, talvez
adquiridas há alguns milhares de anos, durante a época dos nossos
caçadores-coletores ancestrais, estaremos aptos a explicá-los. Saberemos o
que a arte e a música são em sua essência ao descobrirmos o que elas
fazem.
Vejamos a música, por exemplo. Uma mãe que canta para seu filho cria
um vínculo por meio da sua canção. Os dois balançam conforme o seu