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A alma do mundo - Roger Scruton

conservadorismo filosofia política

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Então, o importante para nós seria o fato de que a música que ouvimos é

profunda, sincera, urgente? Por que procuramos na música as qualidades

morais que admiramos e qual seria a esperança ao encontrarmos essas

mesmas qualidades, naquele espaço metafórico onde jamais poderemos nos

arriscar? É razoável sugerir que construímos nossas vidas emocionais

através dos relacionamentos precipitados pelas emoções e que muito do que

sentimos é o resultado de várias tentativas de “ter responsabilidade”

[accountability] por nossos sentimentos, além de moldá-los de acordo com

as reações de compaixão que elas provocam. 4 A emoção é, em larga

medida, um material plástico, e é moldado não apenas pela tentativa de

entender o seu objeto, mas também pelo desejo de nos conduzir como

devemos ser conduzidos no espaço público que nos rodeia. Esse “ir para

fora” da vida interior faz parte da educação emocional, e ela envolve

aprender como trazer os outros a uma relação frutífera com os nossos

sentimentos, para colher a recompensa da compaixão deles.

Algo parecido com isso pode ser visto naquelas ocasiões festivas,

cerimoniosas e ritualizadas em que as pessoas se permitem aproveitar os

seus sentimentos, sejam eles de alegria ou de tristeza, e quando a

experiência do “participar” lhes toma conta. Muito desse trabalho

conquistado nessas épocas é um trabalho de imaginação, e é difícil ficar

surpreso se as ocasiões em que nos deixamos sentir até o limite são as

mesmas em que ficamos emocionados pela compaixão direcionada a

criaturas puramente imaginadas. É por isso que o teatro trágico grego se

tornou parte de um festival religioso e de uma celebração comunitária da

cidade e dos seus deuses. Essa era uma ocasião na qual as pessoas podiam

ensaiar as suas emoções de compaixão e, portanto, “aprenderem a sentir”

nas condições difíceis que prevalecem em qualquer lugar do mundo

humano, exceto no teatro. (E há aqui uma tentação de refazer o resto da

vida como se fosse um teatro, no qual todas as emoções não passam de

luxos — a tentação que conhecemos como sentimentalismo.)

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