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mútuos, usam conceitos que não possuem nenhum papel nas ciências
empíricas. Quando me dirijo à minha esposa em um diálogo interpessoal,
dou procedência às afirmações em primeira pessoa dela. Os motivos que ela
me dá para isso são os motivos que importam, e suas declarações sinceras
de intenções e crenças formam o fundamento da minha resposta a ela. Eu a
vejo como um centro livre de consciência, que se dirige a mim da
perspectiva de um “Eu” unificado, individual e único como eu sou. Quando
lhe pergunto, “O que você fará?”, minha pergunta busca uma resposta. É
algo bem diferente da pergunta “O que ele fará?”, e as duas questões não
são instâncias substitutas de um simples esquema “O que x fará?”. Uma
pergunta busca uma decisão, a outra busca uma previsão e, ao buscar
decisão, estou me dirigindo ao eu em você. Para fazer isso, comprometo-me
àquelas “razões independentes de desejos” referidas por Searle, e essas
razões são formadas por conceitos que não têm papel nenhum na descrição
do mundo físico: conceitos como direito, dever, justiça, virtude, pureza, que
informam nossas trocas interpessoais.
O que é central para o diálogo interpessoal é a prática da
responsabilização. Nós tomamos conta de cada um, não apenas por nossas
ações, mas também por nossos pensamentos, sentimentos e nossas atitudes.
A pergunta “por quê?” dirigida de mim para você não é uma regra em busca
de explicação, e certamente não é o tipo de explicação que um neurologista
pode dar. É um perguntar por um relato de como as coisas estão, da sua
perspectiva em primeira pessoa, que o tornará inteligível, e, em um caso
normal, aceitável para mim. Algumas vezes, você pode estar disponível
para oferecer uma justificativa pelas suas ações e pelos seus sentimentos. E
outras vezes, seu relato não será capaz de justificá-las, mas irá, de qualquer
forma, reconhecer a sua responsabilidade [accountability]. (Pense em um
diálogo no qual o primeiro gesto é “Você está bravo comigo?”)
O encontro eu-você é algo tão vívido e central em nossas vidas que
somos naturalmente tentados a acreditar que se trata de um encontro entre
os objetos, e que esses objetos existem em alguma outra dimensão daquela
que contém as coisas físicas comuns. Acredito que é isso, em vez de serem