06.08.2020 Views

A alma do mundo - Roger Scruton

conservadorismo filosofia política

conservadorismo filosofia política

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

mútuos, usam conceitos que não possuem nenhum papel nas ciências

empíricas. Quando me dirijo à minha esposa em um diálogo interpessoal,

dou procedência às afirmações em primeira pessoa dela. Os motivos que ela

me dá para isso são os motivos que importam, e suas declarações sinceras

de intenções e crenças formam o fundamento da minha resposta a ela. Eu a

vejo como um centro livre de consciência, que se dirige a mim da

perspectiva de um “Eu” unificado, individual e único como eu sou. Quando

lhe pergunto, “O que você fará?”, minha pergunta busca uma resposta. É

algo bem diferente da pergunta “O que ele fará?”, e as duas questões não

são instâncias substitutas de um simples esquema “O que x fará?”. Uma

pergunta busca uma decisão, a outra busca uma previsão e, ao buscar

decisão, estou me dirigindo ao eu em você. Para fazer isso, comprometo-me

àquelas “razões independentes de desejos” referidas por Searle, e essas

razões são formadas por conceitos que não têm papel nenhum na descrição

do mundo físico: conceitos como direito, dever, justiça, virtude, pureza, que

informam nossas trocas interpessoais.

O que é central para o diálogo interpessoal é a prática da

responsabilização. Nós tomamos conta de cada um, não apenas por nossas

ações, mas também por nossos pensamentos, sentimentos e nossas atitudes.

A pergunta “por quê?” dirigida de mim para você não é uma regra em busca

de explicação, e certamente não é o tipo de explicação que um neurologista

pode dar. É um perguntar por um relato de como as coisas estão, da sua

perspectiva em primeira pessoa, que o tornará inteligível, e, em um caso

normal, aceitável para mim. Algumas vezes, você pode estar disponível

para oferecer uma justificativa pelas suas ações e pelos seus sentimentos. E

outras vezes, seu relato não será capaz de justificá-las, mas irá, de qualquer

forma, reconhecer a sua responsabilidade [accountability]. (Pense em um

diálogo no qual o primeiro gesto é “Você está bravo comigo?”)

O encontro eu-você é algo tão vívido e central em nossas vidas que

somos naturalmente tentados a acreditar que se trata de um encontro entre

os objetos, e que esses objetos existem em alguma outra dimensão daquela

que contém as coisas físicas comuns. Acredito que é isso, em vez de serem

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!