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A alma do mundo - Roger Scruton

conservadorismo filosofia política

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dois exemplos que dei acima — absurdas precisamente porque procuram

explicar algo que não definiram. Até definir o que a musica é e como ela se

diferencia de um som afinado, por exemplo, você não vai saber qual é a

pergunta a ser feita quando se questiona sobre as suas origens. Até

reconhecer que o sentido humano da beleza é algo completamente diferente

da atração sexual da pavoa, você jamais saberá o que é, acima de qualquer

coisa, provado pelas suas esparsas similaridades. Você descreverá a presente

motivação humana como se fosse algo que é “nada além” da sua hipótese

arquetípica, e, em vez de uma ciência do desenvolvimento humano, você

produzirá um novo mito de origem, do qual tudo o que for particularmente

humano será colocado de lado.

E há algo pior: toda a abordagem da “adaptação” ao fenômeno humano

é desordenada. Ela envolve uma aplicação, caso a caso, da teoria da seleção

natural como suplementado pela genética moderna. Ela também nos diz

que, se uma peculiaridade se disseminou na nossa espécie, então é porque

ela foi “selecionada”. Mas isso significa apenas que o traço não é uma má

adaptação, que não é algo que desapareceria sob a pressão evolucionista. E

isso não passa de uma observação trivial. De tudo o que existe, pode-se

dizer que não desapareceu sob a pressão evolucionista. Isso não nos diz

nada sobre como o elemento questionado veio a existir. E muito menos nos

diz qualquer coisa sobre o seu sentido ou o seu significado para nós. A

tentativa para explicar a arte, a música, a literatura e o sentido da beleza

como meras adaptações é algo certamente tanto trivial como ciência e vazia

como uma forma de compreensão. Ela não nos diz nada importante sobre o

seu assunto e traz um enorme dano intelectual ao persuadir as pessoas de

que, afinal de contas, não há nada para entender em relação às

humanidades, já que elas foram todas explicadas — e de uma vez por todas.

(Não à toa, essa é a citação feita por Alan Rosenberg em seu The Atheist

Guide to Reality [O guia do ateu para a realidade], de 2011.)

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