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A alma do mundo - Roger Scruton

conservadorismo filosofia política

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é convidado a depender do que foi combinado. O exemplo paradigmático

disso é o casamento, como foi concebido até os tempos mais recentes, e

como ainda é concebido por várias comunidades ao redor do mundo. O

casamento tradicional, visto de uma perspectiva exterior como um rito de

passagem para outra condição social, é olhada de dentro como um voto.

Esse voto pode ser precedido por uma promessa. Mas é algo além de uma

promessa, já que as obrigações para as quais ele se dirige não podem ser

articuladas em termos finitos. Um voto de casamento cria um laço

existencial, jamais um conjunto de obrigações específicas. E o

desaparecimento gradual de votos maritais é um exemplo especial da

transição “do status para o contrato” que foi discutido anteriormente, visto

pela perspectiva exterior, pelo grande antropólogo que foi Sir Henry

Maine. k Mas, além disso, há algo mais a mudar. O triunfo da visão

contratual sobre o casamento representa uma mudança na fenomenologia da

união sexual, um recuo diante do mundo dos “laços substanciais” para um

mundo de acordos negociados. E o mundo dos votos é um mundo das coisas

sagradas, nos quais obrigações santas e indestrutíveis percorrem nossas

vidas e nos comandam a trilhar certos caminhos, queiramos isso ou não. É

essa experiência que a Igreja sempre tentou proteger, e é a que foi desafiada

pelo Estado nos seus esforços de remodelar o casamento para uma era

secular.

Instituições como o casamento são relativamente fáceis de entender do

ponto de vista exterior — o ponto de vista do antropólogo funcionalista. O

casamento é um rito de passagem — um evento na vida de um indivíduo,

que também é um evento na vida da comunidade, um evento no qual parte

do desejo dessa comunidade de viver é investido. Ela tem interesse em

insistir que o vínculo do casamento é mais do que um contrato, ao impor

aos parceiros o tipo de compromisso existencial que protegerá o futuro de

qualquer criança surgida dessa união. As comunidades que não insistem

mais nesse compromisso, ou que permitem a sua erosão primeiramente ao

reescrevê-lo como um contrato e depois como uma escolha que pais podem

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