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A alma do mundo - Roger Scruton

conservadorismo filosofia política

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“… Do templo que permeia a cidade veio a colunata e depois a coluna

como a unidade de sentido e o princípio da nossa gramática de arquitetura.

Na Cólofon antiga, os edifícios se conformaram a essa gramática, mas com

tamanha variedade e variação de humor como convém aos membros de uma

turba pacífica. E em cada um deles, como se fosse pressentida, mas não

vista, havia uma coluna, erguida de forma imóvel como se o espírito

estivesse dentro de nós, igualmente imóvel e igualmente invisível. A coluna

era algo permanente em meio às mudanças e nos dava uma sensação de

pertencimento. Portanto, nas nossas ruas, nos nossos templos e jardins, os

colofonenses perceberam uma licença visível para habitar, uma afirmação

ao nosso direito de ocupação e um lembrete de que pertencemos a uma

comunidade que incluía nossos ancestrais e a nossa descendência, assim

como nós mesmos. A cortesia dos nossos edifícios era um assunto de

modos e de decência — pois essas são as virtudes do cidadão, daquele que

se assentou no solo e renunciou aos hábitos dos nômades que tomam o que

podem da terra e se dispersam, deixando seus detritos para trás.

“E então vieram os persas, no comando das novas hordas de nômades

que vieram antes deles. Uma nova arquitetura surgiu e, com ela, uma nova

forma de vida humana. Estas verticais desarticuladas e estas telas vazias de

muros, estes desertos achatados que foram ruas, com seus terrenos vazios

que ainda sentem a falta de seus lares desaparecidos — todos falam de uma

fuga da cidade em direção a alguma barricada distante, onde a vizinhança

expira e as pessoas vivem apenas por si mesmas. Por mais vasta e

imponente que seja a nova Cólofon, não há uma aparência de permanência.

A vila é como um aterro congelado e, mesmo que tenha essa aparência para

sempre, parecerá eternamente temporária. A utilidade crua desses edifícios

fala não a respeito de nós e do nosso direito de habitar, mas sim deles, dos

poderes anônimos que nos usam para os seus propósitos inescrutáveis. É

por isso que esses edifícios são percebidos como uma profanação: nada do

sagrado permanece neles…”

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