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A alma do mundo - Roger Scruton

conservadorismo filosofia política

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como se fosse uma forma que chegou até nós, não como uma forma

imposta, e ela chegou por meio do poder gerador da Ordem que estava

implícita nela. Isso é uma pedra, mas uma pedra com uma alma.

Edifícios tradicionais têm uma orientação específica: eles encaram o

mundo, não sempre em uma única direção, mas de tal modo que se dirijam

ao espaço diante deles. Não são arestas abertas ao espaço público, mas

visitantes que se congregam ali. Além disso, atrás das fachadas

parcialmente reveladas por meio de janelas e sugeridas por portas e as

linhas de teto, há vida. Talvez seja exagerar um pouco falar neste caso de

“visita e transcendência”, como Levinas fala do rosto humano. Mas você

pode facilmente ver por que alguém fica tentado a usar esse tipo de

expressão. Nossa habilidade de dotar os prédios de rostos é igual à nossa

habilidade de ver um personagem em uma máscara teatral. Os prédios que

nos encaram adquirem um rosto e uma expressão muito particulares. E é

certo que uma das características mais perturbadoras da paisagem

modernista é o fato de que todos os edifícios não possuem rosto nenhum.

É desnecessário dizer que os escritores modernos que falam sobre

arquitetura não adotam o mito de origem de Arqueanassa. Eles não veem a

arquitetura como a consagração do solo em nome dos deuses que a habitam.

Para o escritor moderno, tudo isso é uma metáfora, e uma metáfora que

devemos abandonar. No entanto, até mesmo no século XX, tentativas sérias

de capturar o verdadeiro significado da arquitetura tenderam a

desconsiderar função e utilidade, em favor de valores que estão firmemente

enraizados na psique. Por exemplo, para os seguidores de Melanie Klein, a

arquitetura é uma representação do corpo humano, em particular o corpo da

mãe, tanto amada como odiada, de quem precisamos e fugimos, carregando

consigo a inscrição de nossos anseios e alegrias mais profundos g . Já para

Ruskin, a arquitetura deve ser guiada pela lanterna da verdade e pela

lanterna do sacrifício, que apontam sempre para a vida idealizada do

espírito. Seja lá quais foram os filósofos e os críticos que pensaram

seriamente sobre a diferença entre a arquitetura permanente e um abrigo

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