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Intencionalidade ampliada
Retornarei mais tarde a esses pensamentos místicos. Enquanto isso,
contudo, é necessário abordar o tema da autoconsciência, para fundamentar
o meu argumento subsequente. Muitos filósofos se referiram ao “mistério”
da consciência, como se ela fosse uma característica peculiar do mundo que
não pode ser reconciliada com os pressupostos comuns da física. Mas isso é
algo profundamente errôneo. Se há um mistério aqui, não está em alguma
coisa peculiar, ou fato, ou região no mundo dos objetos. Tal como ele é, o
mistério surge da visão privilegiada do sujeito, e está no horizonte dentro do
mundo onde o próprio sujeito atua. Nenhuma tentativa de diminuir o sujeito
no mundo dos objetos foi realmente bem-sucedida. Você pode extrair da
pessoa quantas partes do corpo dela quiser, mas jamais encontrará o lugar
onde ela está, o lugar do qual o sujeito se dirige a mim e do qual eu, por
minha vez, me dirijo a ele. O que importa para nós não são os sistemas
nervosos invisíveis que explicam como as pessoas funcionam, mas as
aparências visíveis às quais reagimos quando reagimos a elas como pessoas.
São essas aparências que interpretamos, e sobre nossa interpretação
construímos reações que, por sua vez, devem ser interpretadas por aqueles a
quem são endereçadas. Essas reações são endereçadas não a algum item no
mundo que compartilhamos, mas ao horizonte, o eu, que identifica o ponto
de vista do outro, e o qual apenas o outro pode ocupar. Parece então que há
uma lacuna metafísica intransponível entre o objeto humano e o sujeito
livre com quem nos relacionamos como pessoa. Mesmo assim,
atravessamos constantemente essa lacuna. Como?
Kant argumenta que toda investigação filosófica começa e termina no
ponto de vista do sujeito. Se eu me pergunto o que posso saber ou o que
devo fazer, ou o que espero, então a questão é sobre o que eu posso saber, e
assim por diante, dadas as limitações da minha perspectiva. Não se trata de
uma pergunta sobre o que Deus pode saber, o que é reconhecível a partir de
determinado ponto de vista que jamais posso alcançar, ou o que é