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A alma do mundo - Roger Scruton

conservadorismo filosofia política

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Intencionalidade ampliada

Retornarei mais tarde a esses pensamentos místicos. Enquanto isso,

contudo, é necessário abordar o tema da autoconsciência, para fundamentar

o meu argumento subsequente. Muitos filósofos se referiram ao “mistério”

da consciência, como se ela fosse uma característica peculiar do mundo que

não pode ser reconciliada com os pressupostos comuns da física. Mas isso é

algo profundamente errôneo. Se há um mistério aqui, não está em alguma

coisa peculiar, ou fato, ou região no mundo dos objetos. Tal como ele é, o

mistério surge da visão privilegiada do sujeito, e está no horizonte dentro do

mundo onde o próprio sujeito atua. Nenhuma tentativa de diminuir o sujeito

no mundo dos objetos foi realmente bem-sucedida. Você pode extrair da

pessoa quantas partes do corpo dela quiser, mas jamais encontrará o lugar

onde ela está, o lugar do qual o sujeito se dirige a mim e do qual eu, por

minha vez, me dirijo a ele. O que importa para nós não são os sistemas

nervosos invisíveis que explicam como as pessoas funcionam, mas as

aparências visíveis às quais reagimos quando reagimos a elas como pessoas.

São essas aparências que interpretamos, e sobre nossa interpretação

construímos reações que, por sua vez, devem ser interpretadas por aqueles a

quem são endereçadas. Essas reações são endereçadas não a algum item no

mundo que compartilhamos, mas ao horizonte, o eu, que identifica o ponto

de vista do outro, e o qual apenas o outro pode ocupar. Parece então que há

uma lacuna metafísica intransponível entre o objeto humano e o sujeito

livre com quem nos relacionamos como pessoa. Mesmo assim,

atravessamos constantemente essa lacuna. Como?

Kant argumenta que toda investigação filosófica começa e termina no

ponto de vista do sujeito. Se eu me pergunto o que posso saber ou o que

devo fazer, ou o que espero, então a questão é sobre o que eu posso saber, e

assim por diante, dadas as limitações da minha perspectiva. Não se trata de

uma pergunta sobre o que Deus pode saber, o que é reconhecível a partir de

determinado ponto de vista que jamais posso alcançar, ou o que é

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