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A alma do mundo - Roger Scruton

conservadorismo filosofia política

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dela. É por isso que, quando tentamos imaginar como as pessoas se

tornaram o que são, temos de recorrer geralmente a um “mito de origem”.

Contamos uma história na qual aparecemos logo no começo como se

fôssemos “o homem eterno”, segundo a frase de Chesterton — aquilo que

nos tornamos apenas com o passar do tempo e, em uma certa maneira, de

forma inexplicável. b Ao fornecer mitos desse tipo, as religiões nos ajudam a

entender a nós mesmos.

Não que esses mitos não tenham fundamento. Em geral, eles podem ser

reescritos em um idioma mais analítico, do modo como a dialética de Hegel

pode ser reescrita nos termos de uma pressuposição em vez de uma

sucessão entre os seus “momentos”. Além disso, há uma outra ideia de

Hegel, já explicitada em Aristóteles, que alimenta ainda mais a concepção

narrativa do Lebenswelt. Aristóteles escrevia sobre a potência (dunamis) de

uma entidade, e a expansão plena dessa potência em sua atividade

(energeia) ou então em sua forma completa e realizada (entelechia).

Seguindo Aristóteles, escritores medievais diferenciaram a potência de uma

coisa do ato que a realiza. De forma bem simples, existem entidades cuja

essência consiste no poder de se desenvolver de uma certa maneira. O que

essas entidades são essencialmente podem ser compreendidas em sua

plenitude apenas nos termos de sua forma final. É da essência de uma

bolota que crescerá (exceto se for impedida por algum defeito ou alguma

doença) para se tornar um carvalho. E entendemos o que um carvalho é

apenas compreendendo o que ele se tornará. Da mesma maneira, enquanto

existem seres humanos que não mostram as características definitivas da

sua personalidade, eles são, de qualquer forma, essencialmente pessoas, já

que está em sua natureza tornarem-se pessoas e se realizarem como elas. A

personalidade é o telos, o fim, de cada um de nós.

Hegel argumentou que está na natureza da consciência lutar para a

“realização” ou “objetificação” (Entäusserung) para que se alcance uma

forma determinada e objetiva. A história contada pela dialética pode ser

compreendida em uma outra maneira, atemporal, para definir o que ocorre

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