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A alma do mundo - Roger Scruton

conservadorismo filosofia política

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De novo, o dualismo cognitivo

Então, como um filósofo deve se aproximar das descobertas da

neurociência? Não quero dizer que sou algo diferente deste organismo que

está diante de você. Esta coisa que está aqui é o que sou. O melhor modo de

proceder, parece-me, é por meio do tipo de dualismo cognitivo que esbocei

anteriormente, por meio do qual podemos captar a ideia de que pode haver

uma única realidade e que ela é compreendida de mais de uma maneira. Ao

descrever uma sequência de sons como uma melodia, estou situando a

sequência no mundo humano: o mundo das nossas reações, das nossas

intenções e do nosso autoconhecimento. Estou suspendendo os sons para

fora do reino físico e os reposicionando no Lebenswelt, que é um mundo de

liberdade, razão e do ser interpessoal. Mas não estou descrevendo algo

diferente do que os sons ou sugerindo que há algo oculto por trás deles,

algum self interior ou essência que se revela por si de alguma forma

inacessível para mim. Estou descrevendo o que escuto nos sons, quando

reajo a eles como música. Em algo similar situo o organismo humano no

Lebenswelt; e, ao fazer isso, eu uso outra linguagem, com outras intenções,

diferente daquelas que se aplicam às ciências biológicas.

É claro que a analogia é imperfeita, como todas as outras analogias,

apesar de que retornarei a elas em breve, ao discutir o problema do

significado musical. Mas ela aponta para um caminho que vai além do

dilema do neurocientista. Em vez de ir pela teoria acima do pedestal

recomendada por Patricia Churchland ao tentar providenciar um relato

neurológico daquilo que significa quando falamos de pessoas e dos seus

estados mentais, temos de ir pelo caminho do senso comum e reconhecer

que a neurociência descreve um único aspecto das pessoas, em uma

linguagem que não pode capturar o que estamos querendo dizer quando

descrevemos o que pensamos, sentimos ou pretendemos. A personalidade é

uma característica “emergente” do ser humano no sentido de que a música é

uma característica emergente dos sons: não é algo diferente ou acima da

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