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A alma do mundo - Roger Scruton

conservadorismo filosofia política

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saborear de impressões nos leva a uma atitude crítica e a escolhas

governadas pela razão. Meço o objeto observado com o sujeito que o

observa e coloco ambos em questão. Desse modo, o interesse estético é a

abertura culminante para o Lebenswelt: a maneira como olhamos o mundo

como significado de si mesmo.

Valores estéticos são valores intrínsecos, e quando encontro beleza em

algum objeto, é porque eu o vejo como um fim em si mesmo e não apenas

como um meio. E, para mim, o seu significado intrínseco está no seu modo

de surgir diante da minha percepção, como se fosse para me desafiar no

aqui e agora. Tal maneira de encontrar objetos no mundo é tão importante

quanto a minha maneira de ver as pessoas; quando elas estão diante de mim,

encaram-me, e eu reconheço que sou responsável por elas e elas são

responsáveis por mim. Na experiência estética, temos algo como um

encontro face a face com o próprio mundo e com as coisas que ele contém,

assim como temos na experiência de coisas e lugares sagrados. j

Por definição, apesar de os valores intrínsecos não poderem ser

traduzidos em valores utilitários, isso não significa que eles não tenham

utilidade. Vejamos a amizade. O seu amigo lhe é valioso como a coisa que

ele é. Tratá-lo como um meio — usá-lo somente para os seus propósitos —

é desfazer a amizade. E, ainda assim, os amigos são úteis: eles dão ajuda em

tempos de necessidade e ampliam as alegrias do cotidiano. A amizade é

algo extremamente útil, desde que nós não pensemos que ela tenha

utilidade. O mesmo ocorre com o habitat humano. Ganhamos os benefícios

das construções quando não queremos nenhuma meta para elas e, em vez

disso, as estudamos para encaixar cada parte delas em uma harmonia

adequada. Concinnitas é a mãe da utilidade.

O tema da estética decolou quando Kant e Hume reconheceram

simultaneamente (apesar de terem fundamentos bastante distintos) que a sua

fruição envolvia um juízo. O meu prazer se baseia em um senso de justiça

do objeto que usufruo, tal como ele é apresentado à minha atenção. Kant e

Hume escreveram, a respeito deste tópico, sobre o “julgamento do gosto”.

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