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A alma do mundo - Roger Scruton

conservadorismo filosofia política

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legitimidade de qualquer decisão particular possa ser avaliada. No entanto,

agora são usados para tomar partido em controvérsias políticas. E como

ninguém que faz uso da concepção, até onde posso ver, jamais se pergunta

como um direito pode ser justificado, não posso deixar de pensar que essas

pessoas têm tanta confiança na noção de direito quanto Jeremy Bentham.

Contudo, ao assumir o modo de limitação da doutrina dos direitos que

sugeri, podemos começar a explorar uma distinção vital nos assuntos

humanos, entre aqueles que são governados pela justiça e aqueles que

dependem de algum outro tipo de elo entre as pessoas. Aristóteles definia a

justiça como dar a cada um o que é seu. Em outras (e mais modernas)

palavras, a justiça significa respeitar os direitos e os méritos. Ela é a

restrição de um lado nas relações humanas que governam os nossos

empreendimentos cooperativos. É uma propriedade de ações e omissões

humanas, e é compreendida amplamente de forma negativa, por meio das

várias maneiras em que cometemos injustiças — um ponto que é

claramente explicado por Adam Smith e também por Kant. Cometo uma

injustiça quando ultrapasso ou ignoro a soberania do outro, ao recusar

reconhecer seus direitos e seus méritos em um assunto que o preocupa —

por exemplo, ao obrigá-lo ou impedi-lo de explicar seu raciocínio, ou

fraudá-lo através de mentiras e truques. Em uma passagem célebre da

Fenomenologia do espírito, a qual já me referi, Hegel sugere que em todos

nós há uma espécie de resíduo das relações de dominação e servidão, e que

a nossa disposição em buscar o encontro eu-você, no qual acordo livre e

reconhecimento aberto do outro substituem a ditadura, surgiu e mantém os

traços da “luta da vida e morte” que precedeu o surgimento da negociação e

da lei. Esse pensamento de Hegel (que aparece no relato do sacrifício feito

por Girard discutido brevemente no capítulo 1) me parece completamente

convincente, e um modo de expressá-lo é afirmar que a justiça é o

cumprimento da liberdade humana — a forma das relações humanas em

que as obrigações são tomadas livremente, e objetivamente ligadas por essa

mesma razão. E vencemos por meio da justiça ao adotar, em nossos acordos

mútuos, o ponto de vista do juiz imparcial.

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