06.08.2020 Views

A alma do mundo - Roger Scruton

conservadorismo filosofia política

conservadorismo filosofia política

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

passional e tímida. E muitos filósofos usaram esse fato para propor uma

intencionalidade generalizada na experiência musical, ao argumentar que a

música provê algo equivalente no som das paixões humanas,

movimentando-se do mesmo modo ou com as mesmas tensões dinâmicas

enquanto nos movemos sob a pressão da emoção. O problema, tal como eu

vejo, é que todas essas descrições são figurativas. E não servem para

diferenciar a música de quaisquer outras coisas que descrevemos em termos

figurativos. Falamos do nobre carvalho, do cipreste triste, do salgueiro

dançante, do pinheiro sombrio — mas essas descrições apenas tocam a

superfície das coisas como as folhas que voam pelo caminho.

Significado e metáfora

Há uma manobra familiar na filosofia da música que tenta encontrar um

fundamento na metáfora feita por analogias. É algo parecido com isto:

começamos com a pergunta do que significa descrever uma peça de música

como algo triste, nobre, e assim por diante. Respondemos com uma

sugestão: queremos dizer que a música é como se fosse uma pessoa triste e

nobre. Aqui me refiro a alguns dos escritos de Peter Kivy sobre o assunto,

que nos diz que a música triste compartilha as propriedades dinâmicas das

pessoas tristes, que ela seria lenta, declinante, ponderada — e por aí vai. i E

a música nobre seria enaltecedora, completa, com gestos claros e diretos, e

cadências honestas. É então que quero protestar: espere um momento.

Você não nos esclareceu nem um pouco — nos disse que a música triste

compartilha propriedades com as pessoas tristes; e então provou isso ao

descrever essas mesmas propriedades de dois modos — usando a linguagem

literal das pessoas e a linguagem figurativa da música. A música não se

move, declina ou pondera literalmente. A analogia não se revela de forma

alguma como analogia, apenas um modo de substituir uma metáfora pela

outra. Ainda tenho a pergunta: o que essas metáforas significam, e o que

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!