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A alma do mundo - Roger Scruton

conservadorismo filosofia política

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As coisas acontecem de outra forma conosco. Segundo Searle argumentou

por vários anos e em vários livros, o mundo humano contém coisas que não

existem independentemente das nossas posturas intencionais, uma vez que

elas são trazidas à luz por declarações humanas. O nosso mundo é um

mundo de instituições, leis e alianças. Estamos rodeados por todos os lados

por coisas que surgem arbitrariamente, e cuja perpetuação depende da nossa

aquiescência. Essas coisas não surgem apenas de promessas individuais,

legislações e decretos; Searle diz que o mais importante é que dependem

daquilo que ele chama de “intencionalidade social” — o senso

compartilhado de que nós estamos coletivamente sob algumas obrigações.

A vida humana não poderia ser entendida sem referência a esse tipo de

intencionalidade coletiva, que, de acordo com a afirmação plausível de

Searle, cria “razões independentes de desejo para ação”. O mundo humano

é uma colagem de “poderes deônticos”, que pertencem a departamentos,

instituições, leis e convenções que são trazidas à luz, assim como ocorrem

com os contratos, pela nossa atitude ao respeitá-los. t

Essa tese por si mesma não sugere que os seres humanos devem ser

compreendidos de modo completamente diferente do modo como os

cachorros são entendidos. A intencionalidade coletiva pode ser um

fenômeno tão natural quanto, e tão facilmente agrupada sob uma ciência

unificada, a intencionalidade dos cães, gatos e pássaros. Contudo, há uma

complicação com a qual, a meu ver, Searle não prestou atenção suficiente.

As declarações humanas — como promessas — são compromissos feitos no

exemplo da primeira pessoa, geralmente dita para o outro identificado como

“você”. Elas se situam na rede dos encontros eu-você, e seriam

inconcebíveis sem os privilégios peculiares que se fixam no conhecimento

em primeira pessoa.

O sinal da ação intencional é a habilidade do agente de dizer

imediatamente, e sem nenhum fundamento, de que isto é o que ele está

fazendo e de oferecer respostas para a pergunta “por quê?”. u E intenções

para o futuro são diferentes das predições pelo fato de que aqueles que as

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