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A alma do mundo - Roger Scruton

conservadorismo filosofia política

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mesmo sendo claramente o produto de um intelecto astuto (ou diversos

deles, se pudermos confiar nos estudiosos), pretende ser um relato do que

realmente aconteceu naqueles seis dias de criação. Ela fala de uma união

original do homem com Deus, dividida pelas ações livres dos nossos

“primeiros pais”, a partir da qual a humanidade vagou pelo mundo entre o

conflito e a desolação. E o Novo Testamento oferece uma redenção final, já

antecipada pelos profetas. O preço desse pecado original agora foi pago

pelo próprio Deus, e o caminho de volta para a unidade com Ele finalmente

está diante de nós.

Essa narrativa exemplifica um padrão que é amplamente observado, não

apenas nos mitos de origem, mas também nos ritos de passagem — em que

indivíduos primeiro se separam de suas tribos e depois passam por uma

reincorporação ritualística. Nós o encontramos também exemplificado em

certos relatos poéticos e filosóficos sobre a natureza e o destino das

sociedades humanas. Eis o padrão: unidade inocente, depois a separação

culposa, levando finalmente a uma unidade recuperada, em um estado de

compreensão e perdão. No livro The Mind of God and the Works of Man [A

mente de Deus e os trabalhos do homem], Edward Craig argumenta de

forma persuasiva que a filosofia dominante da era romântica na Alemanha

deriva do “único grande tema metafísico com o qual as mentes desse tempo

estavam obcecadas: a unidade, sua perda e a sua recuperação”. f E ele faz um

relato nesses termos de “a grande valsa cósmica, a dialética em três fases da

metafísica de Hegel”. g Contudo, não são apenas os românticos alemães que

viam o mundo em termos desse padrão dominante. Muitas religiões antigas

têm uma estrutura comparável — notadamente os cultos de Ísis e Osíris,

Átis e Adônis. O rito católico-romano da confissão, penitência e absolvição

também faz parte desse padrão, que é também exemplificado em algumas

tragédias gregas, mais especificamente na Oresteia e na narrativa estendida

de Édipo, terminada em Édipo em Colono.

Ainda assim, Craig está certo em destacar a dialética de Hegel, pois o

interesse adicional no relato de sua estrutura quase-temporal, apresentando

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