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A alma do mundo - Roger Scruton

conservadorismo filosofia política

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mesmos, atribuir predicados mentais a nós mesmos, em um exemplo da

primeira pessoa — exatamente os mesmos predicados que outros atribuem a

nós nos exemplos em segunda e terceira pessoas.

Algumas pessoas acreditam que podemos entender isso se pudermos

identificar um self, um monitor interior, que registra os estados mentais

ocorridos dentro desse campo de percepção, e os marca, por assim dizer, em

uma tela interior. Parece-me, às vezes, que António Damásio argumenta

nessa linha; l mas é claro que isso imediatamente o coloca na mesma linha

de raciocínio de Dennett e Hacker, e de novo duplica o problema que

deveria resolver. Como o monitor se informa sobre os funcionamentos

mentais que acontecem dentro do seu campo de visão? Poderia cometer

erros? Poderia fazer uma atribuição incorreta de um estado mental,

escolhendo o sujeito errado da consciência? Algumas pessoas defenderam

que isso é o que acontece no fenômeno do “pensamento enxertado”, que

caracteriza certas formas de doença mental. Mas não há motivo para pensar

que uma pessoa que recebe esses “pensamentos enxertados” poderia estar

de alguma forma errada ao pensar que eles acontecem dentro dela. m

A teoria do monitor é uma tentativa de ler a autoconsciência dentro do

mecanismo que supostamente o explicaria. Estamos familiarizados com a

característica intrigante das pessoas, em especial o fato de que, por meio do

domínio do uso da primeira pessoa nos predicados mentais, elas são capazes

de fazer algumas afirmações sobre si mesmas como se isso fosse uma

espécie de privilégio epistemológico. As pessoas são imunes não apenas ao

“erro por identificação equívoca”, como escreve Shoemaker, mas também

(no caso de certos estados mentais como a dor) ao “erro por atribuições

equívocas”. n Esta é uma das verdades mais profundas sobre a nossa

condição, a de que aproveitamos essas imunidades na primeira pessoa. Se

não fizéssemos isso, jamais poderíamos dialogar com cada um de nós:

estaríamos sempre nos descrevendo como se fôssemos outra pessoa.

Contudo, o privilégio da primeira pessoa é uma característica de todos,

construída como criaturas que usam a linguagem: é uma condição ligada de

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