06.08.2020 Views

A alma do mundo - Roger Scruton

conservadorismo filosofia política

conservadorismo filosofia política

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

do certo e do errado. Tal ser pode nos amar de forma recíproca. E mais: se

Deus existe, é Um e é o Criador.

Deus é o ponto final da nossa busca pelas razões, e, se existissem dois

deuses, esse ponto jamais seria alcançado, já que não haveria um ser que foi

finalmente respondido. O politeísmo convida os seus deuses para a ordem

da natureza, para se tornarem “espíritos” que se movem ativamente no

espaço onde nos encontramos. Eles são encontrados assim como eu e você

podemos ser encontrados, distraídos nas esquinas da vida, em geral

tomando emprestada a forma de pessoas conhecidas, como acontecia com

os deuses de Homero, que davam conselhos mundanos para aqueles que

lhes eram particularmente favorecidos. Dirigir suas preces para tais

divindades é permanecer na ordem da natureza, enquanto se recusa a vê-la

como natureza.

Há uma tradição da filosofia muçulmana que permite apenas uma coisa

a ser dita definitivamente sobre Deus — ou seja, que ele é o único, o

possuidor de uma taw.hīd ou unicidade inimitável, que o vincula

precisamente porque não o coloca em uma ligação como uma propriedade

que deve ser compartilhada. Mas insistir nesse ponto é correr o risco da

contradição. A unicidade de Deus é também algo único, um modo de ser a

pessoa que ele é, e, ao articular isso, atribuo inevitavelmente a ele aquelas

propriedades sem as quais não pode ser uma pessoa e que não pode ser um

objeto de amor. Contudo, a ideia de taw.hīd nos lembra de que estamos

atribuindo unidade e identidade a um Deus concebido puramente como um

sujeito, e sem referência a nenhum fato na ordem da natureza, como

poderíamos usar sobre cada um de nós para reconhecermos e atribuirmos

uma identidade através do tempo. Levantamos aqui o problema da

identidade pessoal de uma maneira tão perspicaz que talvez não possamos

afirmar nada além disso para respondê-lo. Entendemos Deus, por assim

dizer, como se fosse um sujeito sem roupas, no qual todas as marcas de

identidade desapareceram por completo.

Sabemos que Deus, se ele existe, é criador, pois isso significa — e tudo

o que pode significar — que ele fica fora do conjunto causal, como a razão

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!