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A alma do mundo - Roger Scruton

conservadorismo filosofia política

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Outras culturas conectam lugares sagrados com as lendas dos heróis ou

com as grandes batalhas do passado, às quais prestamos homenagens por

algum sacrifício patriótico. Em todas as sociedades onde os mortos são

enterrados de forma cerimoniosa, o local do sepultamento vira um “campo

santo”, e os atos e as palavras ritualizadas são a única coisa apropriada a se

fazer quando caminhamos sobre ele. Os ritos funerários, as crenças sobre os

deuses e o além-vida, as invocações dos ancestrais e as declarações de

solidariedade com os mortos e os não nascidos — essas são as experiências

centrais das quais derivam as culturas permanentes e encontram expressões

definitivas nas lápides e nas tumbas em cada época e em cada lugar.

Os patriarcas judeus viam a Terra Prometida não como algo a ser

consumido e descartado, mas como uma herança a ser cuidada e

transmitida. Foi assim que justificaram a exterminação cruel, e imperdoável

para os olhos modernos, dos canaanitas, como foi narrado no livro de Josué.

E esse sentimento se ramificaria em outros dois: a convicção de que Deus

era uma presença verdadeira entre eles e o sentido da terra como um

presente — não um presente para a geração do momento a ser usado como

queira, mas um presente para um povo em sua totalidade e por todos os

tempos, uma fonte a ser renovada e a ser levada adiante. Isso registra uma

verdade geral sobre o sagrado. Lugares santos são protegidos da espoliação;

são imersos nas esperanças e nos sofrimentos daqueles que lutaram por eles

— e pertencem aos outros que ainda estão por vir.

Tal sentimento ligou os israelitas à Terra Prometida e à Cidade Sagrada

que foi construída nela. Deus presenteou Moisés com o projeto para um

santuário (Êxodo 25:8) e é ao redor desse templo que a cidade de Jerusalém

foi construída — a cidade brilhante sobre a montanha que também é o lugar

sagrado onde o povo de Deus se refugia das suas tribulações. Na época dos

Salmos, a santidade do templo e da cidade tornou-se uma coisa única — já

que o verdadeiro assentamento é aquele em que Deus habita entre nós, e a

destruição do templo é um ato de sacrilégio que muda o rosto do mundo.

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