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A alma do mundo - Roger Scruton

conservadorismo filosofia política

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ficou famoso com John Locke, da identidade pessoal. Uma pessoa pode ter

uma história diferente do organismo humano em que está? Uma nuvem de

pensamentos imaginários apareceu como insetos insanos do cadáver do

problema de Locke, e não há uma maneira de recolhê-los agora que o

mesmo cadáver está em decomposição.

O mais importante para o presente propósito é refazer o trabalho do

conceito de pessoa na filosofia de Kant e de Hegel. Em Kant, a ideia da

“substância individual” fica em segundo plano, e a razão surge para

substituí-la. A característica principal do ser racional, segundo Kant, não é a

unidade substancial ou a capacidade de acompanhar raciocínios, mas a

autoconsciência e o uso do “Eu”. Por eu poder identificar a mim mesmo na

primeira pessoa que estou apto a viver a vida de um ser racional, e este fato

me situa na rede de relações interpessoais da qual derivam os preceitos

básicos da moralidade. (Ver especialmente as palestras de Kant publicadas

como Antropologia de um ponto de vista pragmático.) O sujeito

autoidentificado é tanto livre transcendentalmente como também dotado da

“unidade transcendental de apercepção” — o conhecimento imediato do self

como um centro unificado de consciência. 1

Essas ideias requerem uma exposição em termos mais modernos; e o

mesmo é verdadeiro sobre os acréscimos que foram feitos por Hegel a partir

da visão kantiana. Para Hegel, as pessoas conquistam a liberdade e a

autoconsciência que as distinguem, e o processo para adquirir esses

atributos é o que nos enreda em relações de submissão e de dominação com

outras pessoas da nossa espécie e também nos leva ao ponto de reivindicar e

estar de acordo com o reconhecimento sobre o qual a ordem moral é

estabelecida. Passo a me conhecer como sujeito por meio de um processo

de autoalienação, no qual eu me encontro de fora, por assim dizer, como um

objeto entre outros. Devo procurar a minha liberdade neste mundo de

estranhos e competidores, ao exigir de outros que reconheçam que sou de

fato livre e, portanto, devo ser tratado não como um meio, tal qual os

objetos são tratados, mas como um fim. No processo dialético em que a

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