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A alma do mundo - Roger Scruton

conservadorismo filosofia política

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onde estou como aqui, e o tempo no que estou falando como agora, não

tenho nenhum privilégio especial sobre o que está acontecendo no aqui e no

agora, além daqueles privilégios que dependem do meu uso do “eu”. Por

outro lado, está claro que não há um lugar para termos dícticos na ciência, e

que, assim como uma ciência unificada deve substituir qualquer referência

ao “aqui” e ao “agora” por posições identificadas em um espaço

quadridimensional, ela deve abandonar o uso do “eu”. Todavia, como

Thomas Nagel apontou, isso leva a um quebra-cabeça único sobre a relação

entre mim e o mundo. d Podemos imaginar uma descrição científica do

mundo que identifica todas as partículas e todos os campos de força, todas

as leis de movimento que governam suas mudanças, e que dá uma

identificação completa das posições de tudo em um determinado tempo.

Mas, mesmo que essa descrição esteja completa, há um único fato que não é

mencionado e que, para mim, é o mais importante: quais desses objetos

neste mundo sou eu? Onde estou, no mundo da ciência unificada? A

identificação de qualquer objeto no exemplo em primeira pessoa é

eliminada pelo empreendimento da explicação científica. Portanto, a ciência

não pode me dizer quem sou eu, menos ainda onde, quando e como.

Mesmo assim, não podemos nos enganar em pensarmos que as pessoas

têm uma existência puramente “subjetiva”, que de alguma maneira as

remove do contínuo espaço-temporal. Nós somos pessoas; mas as pessoas

também são objetos com quem nos encontramos no mundo da nossa

percepção. As pessoas afetam e são afetadas por outros objetos, e existem

leis que governam o seu vir a ser e o seu falecer.

Logo, as pessoas são objetos; mas também são sujeitos. Elas se

identificam na primeira pessoa, e esse modo de se identificar é uma parte

imutável do modo como as descrevemos. Uma pessoa é, para nós, alguém, e

não apenas alguma coisa. e As pessoas são capazes de responder à pergunta

“por quê?” quando questionadas sobre seu estado, suas crenças, suas

intenções, seus planos e seus desejos. Isso significa que, enquanto

geralmente tentamos explicar as pessoas da maneira com que explicamos

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