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eventos. Apenas quando ambas as partes reconhecem a si mesmas como
sujeitos livres que eles passam a agir por suas razões e seus motivos. Pois
eles são públicos, válidos para todos os agentes racionais, e proferidos nos
termos do mundo que compartilham — o Lebenswelt. As razões práticas
estão enraizadas no reconhecimento de que agentes livres façam um acordo
entre si quando começam a aceitar um ao outro como fins em si mesmos.
Em outras palavras, a liberdade é plenamente alcançada apenas em um
mundo de pessoas unidas por direitos e deveres que são reconhecidos
mutuamente. É então que se torna a liberdade concreta e determinada,
através da qual os agentes alcançam a plena consciência de si mesmos e de
seus motivos para fazerem o que fazem.
É claro que essas não são as palavras exatas de Hegel, e a minha história
resume milhares de páginas em um único parágrafo. Mas é suficiente saber
mostrar que a narrativa do “mito de origem” tem similaridades com essa
explicação, no qual novamente o pressuposto substitui a sucessão como a
relação vinculante entre os “momentos”. A liberdade do sujeito pressupõe o
pertencimento de um mundo onde uma distinção pode ser feita entre os fins
das ações e os meios necessários para assegurá-las. Tal distinção está
disponível pela razão prática, que, por sua vez, pressupõe uma comunidade
de seres racionais que se respeitam como pessoas e se reconhecem na
liberdade que ocorre por meio de seus acordos e em seus projetos. Em
resumo, o conhecimento imediato da minha própria liberdade, que é a
premissa da razão prática, também pressupõe o mundo criado pela razão
prática, o Lebenswelt compartilhado, estruturado por poderes deônticos.
O “mito de origem” se aproxima da autoconsciência, e a liberdade nos
permite perceber a complexidade desses dois aspectos da nossa condição.
Cada um pode ser desdobrado nas camadas que o compõe, e cada camada
nos diz algo a mais sobre o Lebenswelt. O rosto é iluminado como se de
dentro pela autoconsciência e pela liberdade, e cada rosto que encontramos
olha para nós de fora da ordem natural. O rosto não é um objeto entre outros
objetos, e, quando as pessoas nos convidam a percebê-lo como tal, como
acontece com a pornografia, elas têm êxito apenas em desfigurar a forma