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A alma do mundo - Roger Scruton

conservadorismo filosofia política

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de alguma maneira, por meio da prática do Ágape cristão, podemos viver do

único modo que esperamos ser o certo. r Todavia, como reconhece Johnson,

essa visão é muito mais próxima do budismo do que do cristianismo. Tratase

de uma visão de sobrevivência sem o eu. E, no entanto, é o eu que

projeta suas esperanças além deste mundo, e é a intencionalidade ampliada

da relação eu-para-você que a faz tão difícil aceitar que nada nos espera,

exceto a extinção.

É nessa conjuntura que percebemos as limitações do dualismo cognitivo.

Apenas as criaturas autoconscientes encaram a possibilidade da aniquilação;

e, ainda assim, a morte é um evento dentro da ordem da natureza. A ciência

natural nos diz que a morte é uma dissolução, um desaparecimento de um

pequeno vórtice de resistência à entropia que está varrendo todas as coisas

diante dela para o vazio. E como a morte é um evento na natureza, isso é

tudo o que podemos saber sobre ela.

Ou quase tudo. São Paulo via o sacrifício de Cristo como uma redenção

— um modo pelo qual Cristo comprou a nossa vida eterna, tomando os

nossos pecados para si mesmo. Essa ideia é estranha, talvez nem um pouco

inteligível: pois como pode o sofrimento do inocente pagar o débito moral

do culpado? São Paulo também nos disse que agora vemos por espelho em

enigma, e depois face a face. E por “depois” ele queria dizer assim que

atravessarmos o umbral da morte. Em um longo poema inspirado por

Tomás de Aquino, Richard Crashaw articulou esse pensamento nas

seguintes palavras:

Venha amor! Venha Senhor! e que o longo dia

Pelo qual anseio venha logo.

Quando esta alma seca vir aqueles olhos

E beber a tua fonte selada.

Quando o sol da glória perseguir as sombras da fé,

E pelo teu véu me dar a tua face.

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