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A alma do mundo - Roger Scruton

conservadorismo filosofia política

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relatam suas decisões alguns momentos depois disso ocorrer, quando a ação

já está (do ponto de vista do sistema nervoso central) “em curso”. A

conclusão a que, em geral, se chega desses experimentos é a de que o

“cérebro” decide o que fazer, e nossa consciência o segue somente algum

tempo depois, quando o interruptor já foi acionado. Porém, de maneira

alguma essa conclusão é uma consequência dos dados colhidos nessa

experiência. Algumas vezes, uma ação intencional é precedida por uma

decisão ou por uma escolha, sem dúvida; mas é comum que a ação seja a

escolha. E o que faz dela intencional não é que surgiu de uma maneira

particular, mas, sim, que o sujeito não pode dizer sob nenhum fundamento

que eu fiz isto, ou estou fazendo isto, e, ao fazer isto, ele se fez responsável

por isto. Dizer que somos livres é acentuar esse fato: precisamente, que

podemos justificar e criticar nossas ações, afirmá-los como de nossa posse,

e saber imediatamente e com certeza o que iremos fazer — não por

prevermos o que faremos, mas por decidirmos em realizá-la. (Logo, a ideia

de Ancombe de que ação intencional é diferenciada pela aplicação de um

“certo senso da pergunta ‘por quê?’”.) s A liberdade emerge da rede de

relações interpessoais e vem a ser como o corolário do “eu”, do “você” e do

“por quê?”.

Pode-se dizer dos experimentos de Libet que eles tentam descobrir o

lugar do sujeito no mundo dos objetos. Buscam o ponto de intersecção da

autoconsciência livre com o mundo onde ela atua. E não conseguem

encontrar esse ponto. Tudo o que encontram é uma sucessão de eventos no

fluxo de objetos, dos quais nenhum pode ser identificado com uma escolha

autoconsciente. Há um paralelo aqui com a pergunta que levantei no

primeiro capítulo: a pergunta da presença de Deus no mundo. Se você olhar

para o mundo com os olhos da ciência, é impossível encontrar o lugar, o

tempo ou a sequência particular de eventos que podem ser interpretados

como mostrando a presença de Deus. Deus desaparece do mundo assim que

nos dirigimos a ele com o porquê da explicação, assim como os seres

humanos desaparecem do mundo quando buscamos a explicação

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