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relatam suas decisões alguns momentos depois disso ocorrer, quando a ação
já está (do ponto de vista do sistema nervoso central) “em curso”. A
conclusão a que, em geral, se chega desses experimentos é a de que o
“cérebro” decide o que fazer, e nossa consciência o segue somente algum
tempo depois, quando o interruptor já foi acionado. Porém, de maneira
alguma essa conclusão é uma consequência dos dados colhidos nessa
experiência. Algumas vezes, uma ação intencional é precedida por uma
decisão ou por uma escolha, sem dúvida; mas é comum que a ação seja a
escolha. E o que faz dela intencional não é que surgiu de uma maneira
particular, mas, sim, que o sujeito não pode dizer sob nenhum fundamento
que eu fiz isto, ou estou fazendo isto, e, ao fazer isto, ele se fez responsável
por isto. Dizer que somos livres é acentuar esse fato: precisamente, que
podemos justificar e criticar nossas ações, afirmá-los como de nossa posse,
e saber imediatamente e com certeza o que iremos fazer — não por
prevermos o que faremos, mas por decidirmos em realizá-la. (Logo, a ideia
de Ancombe de que ação intencional é diferenciada pela aplicação de um
“certo senso da pergunta ‘por quê?’”.) s A liberdade emerge da rede de
relações interpessoais e vem a ser como o corolário do “eu”, do “você” e do
“por quê?”.
Pode-se dizer dos experimentos de Libet que eles tentam descobrir o
lugar do sujeito no mundo dos objetos. Buscam o ponto de intersecção da
autoconsciência livre com o mundo onde ela atua. E não conseguem
encontrar esse ponto. Tudo o que encontram é uma sucessão de eventos no
fluxo de objetos, dos quais nenhum pode ser identificado com uma escolha
autoconsciente. Há um paralelo aqui com a pergunta que levantei no
primeiro capítulo: a pergunta da presença de Deus no mundo. Se você olhar
para o mundo com os olhos da ciência, é impossível encontrar o lugar, o
tempo ou a sequência particular de eventos que podem ser interpretados
como mostrando a presença de Deus. Deus desaparece do mundo assim que
nos dirigimos a ele com o porquê da explicação, assim como os seres
humanos desaparecem do mundo quando buscamos a explicação