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A alma do mundo - Roger Scruton

conservadorismo filosofia política

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e na atribuição em primeira pessoa dos estados mentais, que inicia a crença

de que há alguma coisa a mais em relação a um estado mental do que o que

pode ser descoberto por meios físicos. No meu próprio exemplo, como

tentei demonstrar, eu sou apresentado ao processo interno como ele é dentro

de si mesmo, e isso me mostra algo que jamais pode ser observado por

outro, pela razão de estar disponível apenas pela via da introspecção.

Essa visão do exemplo em primeira pessoa foi pacientemente e, no meu

entender, definitivamente demolida por Wittgenstein nas Investigações

filosóficas, mesmo que já tenha sido feito no capítulo dos “Parologismos”

da Crítica da razão pura, em que Kant aponta a falácia que envolve a

construção da autoconsciência como a consciência de um determinado tipo

de objeto que se destaca dos outros objetos no nosso mundo físico

compartilhado. É verdade que cada pessoa tem um conhecimento

privilegiado do seu atual estado mental, e que está imediatamente ciente de

todo o alcance dos estados mentais que ele pode atribuir a si mesmo sem

base nenhuma. A ilusão persiste de que, portanto, há algum fato especial

sobre esses estados mentais, um brilho interno, como se fosse revelado

apenas para si mesmo e que ele é capaz de registrar porque é imediatamente

presente em sua consciência de um modo que nenhum objeto ou evento

físico poderia surgir. E mais: supõe-se que esse quale interior é

precisamente o que seria mental em cada estado mental. Assim, nessa visão,

a “vida interior” é essencialmente interior: inobservável para os outros e

conduzida em um mundo próprio.

Não é nada fácil dissipar essas ilusões. Mas sua característica ilusória é

feita de maneira belíssima por Wittgenstein nas seções das Investigações

filosóficas, às vezes conhecidas como “o argumento da linguagem

privada”. q A conclusão a ser tirada desses trechos é que o conhecimento em

primeira pessoa do mental é conhecimento sobre base nenhuma; a fortiori,

ele não é o conhecimento de algo inobservável pelos outros. A mente está lá

fora e é observável; mas, para observá-la, devemos usar outros conceitos, e

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