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A alma do mundo - Roger Scruton

conservadorismo filosofia política

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Os leitores das tradições iluministas e sufi do Islã encontrarão

pensamentos semelhantes àqueles que discorri neste capítulo, e me parece

que é assim que devemos entender a iluminação (ishrāq) procurada por

Avicena e al-Ghazālī — mais precisamente, como um lugar no domínio da

aliança, onde o sacrifício brilha. No Mathnawi, Rumi escreve os seguintes

versos:

Alguém perguntou a um grande sheikh

o que era o Sufismo.

“O sentimento de alegria

quando surge uma súbita decepção.”

Rumi não quer dizer que se trata da alegria diante da decepção, mas alegria

por causa da decepção: o reconhecimento de que foi intimado a abandonar

alguma coisa e que isso também é um dom, um presente.

Acredito que a fé no nosso tempo deve ser fundada desse modo, e eu

recebo de bom grado o tipo de dualismo cognitivo que defendi, porque me

parece que ele não destrói, como argumentava Kant, as reivindicações da

razão para dar espaço àqueles que têm fé, mas, em vez disso, cria o espaço

no limiar da razão, onde a fé pode criar raízes e crescer. Mas a fé não é o

mesmo que religião. Trata-se de uma atitude diante do mundo, uma atitude

que se recusa a ficar contente com a contingência da natureza. A fé olha

além da natureza, perguntando a si mesma sobre o que é exigido de mim

como modo de agradecimento a esse dom. Ela não lida com a teologia; é

aberta a Deus e está ativamente envolvida no processo de dar espaço para

Ele, o processo que Scheler chamava de Gottwerdung, algo como “o tornarse

Deus”. p

A natureza da religião

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