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A alma do mundo - Roger Scruton

conservadorismo filosofia política

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temporário, eles foram em direção ao que pensava Arqueanassa,

identificando algum estrato profundo e espiritual da psique humana como a

fonte do conforto que sentimos quando as coisas dão certo e do nosso

desconforto quando elas dão errado.

O mito de Arqueanassa deveria ser reescrito, não como uma história

sobre as origens da arquitetura, mas como uma história sobre a sua essência.

As vilas são lares para nós quando os edifícios nos encaram face a face. A

arquitetura vernacular de todos os períodos e de todos os lugares foi

adaptada à necessidade humana de se ter uma casa e um assentamento, e em

cada caso evoluía de alguma variação local da postura ereta, da superfície

sorridente e da ordem fractal comum às coisas crescentes. h Na tradição

clássica, essas constantes estéticas eram digeridas na gramática, tornando-se

princípios geradores de vários formatos e várias formas agradáveis e

indefinidas. A Ordem implícita mantém a calma e o pano de fundo discreto

dos formatos que eram (segundo o mito) tirados da natureza e consagrados

ao espírito. É a licença visível para habitar, a afirmação do nosso direito de

ocupação e a lembrança de que as nossas comunidades nos precedem e

sobrevivem a nós. i

Diante de um lugar ou de um artefato sagrado, me coloco em uma

postura de respeito. Acredito que esse pedaço do mundo é inviolável. Assim

como o sujeito surge no rosto humano e apresenta diante do assassino e do

abusador o “não” absoluto, o mesmo ocorre com um “eu” observador,

questionador e inquisidor quando ele está no lugar sagrado e nos impele a

respeitá-lo. A experiência do sagrado é interpessoal. Apenas as criaturas

que pensam o “eu” podem ver o mundo desse modo, e isso depende de uma

prontidão interpessoal, uma vontade para encontrar significados e motivos,

até mesmo nas coisas que não têm olhos para serem vistas e que não têm

nenhuma boca para falar. A meu ver, era isto que Alberti quis dizer ao

querer alcançar a concinnitas. Os verdadeiros arquitetos não subordinam o

seu material a algum propósito exterior e sim conversam com ele,

permitindo que o material interrogue o espaço no qual eles constroem.

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