06.08.2020 Views

A alma do mundo - Roger Scruton

conservadorismo filosofia política

conservadorismo filosofia política

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

vida e do comportamento que observamos, mas também não é reduzido a

eles. Uma vez que a personalidade emergiu, é possível relacioná-la a um

organismo de uma nova maneira — a maneira das relações pessoais (da

mesma maneira que podemos nos relacionar com a música de formas que

não podemos nos relacionar com algo que meramente escutamos igual a

uma sequência de sons — por exemplo, podemos dançar ao ouvi-la). Com

essa nova ordem de relação surge uma nova ordem de compreensão, na qual

os motivos e os significados, e não as causas, procuram uma resposta para a

questão “por quê?”. Com as pessoas, estamos em um diálogo: nós as

chamamos para justificar sua conduta diante dos nossos olhos, assim como

devemos nos justificar diante do olhar delas. O que é fundamental nesse

diálogo é a característica da autopercepção. Isso não significa que as

pessoas são realmente um self que se esconde dentro dos seus corpos.

Significa que o seu próprio modo de descrição de si mesmas é algo

privilegiado, e não pode ser desprezado como mera “psicologia popular”

que, com o tempo, originará uma neurociência apropriada.

Esse ponto apoia o raciocínio apresentado no capítulo anterior. Como

argumentei aqui, o dualismo cognitivo só faz sentido se a “prioridade

ontológica” está de acordo com a visão de mundo científica. O Lebenswelt

fica diante da ordem da natureza em uma relação de emergência, mas ela

não é reduzida a uma relação de um a um que ocorre entre seres

particulares. Não podemos dizer de um indivíduo identificado de uma

maneira que é o mesmo indivíduo que foi identificado de outra. Não

podemos dizer “uma coisa, duas concepções”, uma vez que isso faz surgir a

pergunta “que coisa”, que, por sua vez, levanta a seguinte pergunta: “em

que concepção identificamos essa mesma coisa?” Spinoza observou esse

tópico, e, portanto, eliminou completamente o conceito da “coisa” da sua

ontologia, reformulando o conceito de substância como um nome para o

todo do mundo. Não existem “substâncias individuais” na concepção de

realidade em Spinoza.

Podemos ver claramente o problema no exemplo das pessoas, pois aqui,

se digo uma coisa, duas concepções, e depois pergunto que coisa, a resposta

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!