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A alma do mundo - Roger Scruton

conservadorismo filosofia política

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Esta história também é um mito de origem. Ela não fala sobre a nossa

expulsão do Paraíso e da nossa separação de Deus. Em vez disso, fala do

nosso resgate da peregrinação e do conflito que surge da decisão coletiva de

habitar, para sermos novamente unidos, apesar de ser de outra maneira, com

o Deus que nos expulsou do nosso lar anterior. A história começa com um

templo, e esse templo deve ser apto ao deus que o habita. Deve ser um lar

permanente, que expresse uma presença eterna na cidade. Assim, o templo

fundador da cidade deve ser feito de pedra. Deve conter um santuário, no

qual o deus pode estar oculto dos seus adoradores e ser revelado aos seus

sacerdotes. Mas também deve ser um lugar público. O templo simboliza a

intenção coletiva de habitar nesse local onde a comunidade fez um pedido

renovado de permanência. E assim também deve ser permeável à cidade,

talvez rodeado por um espaço aberto, e com colunas, corredores, claustros e

arredores nos quais os cidadãos podem se associar livremente na presença

benigna do deus que os observa.

Ao mesmo tempo, o templo não é completamente uma parte da cidade.

Falando em termos metafísicos, é o lugar que fica no limiar da cidade, o

lugar que é preenchido pelo deus. Sua arquitetura deve mostrar justamente

isso — deve apontar para fora deste mundo, assim como deve estar aberto

às transações do mundo. A “referência além” da arquitetura sagrada reflete

a intencionalidade ampliada das nossas atitudes interpessoais. O eu do Deus

reside nesse lugar, e a arquitetura nos faz cientes disso. Não se trata

simplesmente de pedras que nos rodeiam, mas de uma pedra testemunhal,

uma pedra que foi trazida à luz ao ser esculpida, moldada, com luz e

sombra, para ficar diante de nós em uma postura de observação. O templo é

o lugar onde o crente pode encontrar Deus. Mas ali ele também está

escondido, ocultado no santuário interior ou em rituais que apenas alguns

poucos podem decifrar. O templo revela Deus ao ocultá-Lo e esse paradoxo

é simbolizado em sua estrutura e forma. As igrejas, as mesquitas e os

templos ainda expressam esse sentimento, mesmo para aquele que entra

neles com incredulidade. São lugares assombrados por uma “presença

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