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Esta história também é um mito de origem. Ela não fala sobre a nossa
expulsão do Paraíso e da nossa separação de Deus. Em vez disso, fala do
nosso resgate da peregrinação e do conflito que surge da decisão coletiva de
habitar, para sermos novamente unidos, apesar de ser de outra maneira, com
o Deus que nos expulsou do nosso lar anterior. A história começa com um
templo, e esse templo deve ser apto ao deus que o habita. Deve ser um lar
permanente, que expresse uma presença eterna na cidade. Assim, o templo
fundador da cidade deve ser feito de pedra. Deve conter um santuário, no
qual o deus pode estar oculto dos seus adoradores e ser revelado aos seus
sacerdotes. Mas também deve ser um lugar público. O templo simboliza a
intenção coletiva de habitar nesse local onde a comunidade fez um pedido
renovado de permanência. E assim também deve ser permeável à cidade,
talvez rodeado por um espaço aberto, e com colunas, corredores, claustros e
arredores nos quais os cidadãos podem se associar livremente na presença
benigna do deus que os observa.
Ao mesmo tempo, o templo não é completamente uma parte da cidade.
Falando em termos metafísicos, é o lugar que fica no limiar da cidade, o
lugar que é preenchido pelo deus. Sua arquitetura deve mostrar justamente
isso — deve apontar para fora deste mundo, assim como deve estar aberto
às transações do mundo. A “referência além” da arquitetura sagrada reflete
a intencionalidade ampliada das nossas atitudes interpessoais. O eu do Deus
reside nesse lugar, e a arquitetura nos faz cientes disso. Não se trata
simplesmente de pedras que nos rodeiam, mas de uma pedra testemunhal,
uma pedra que foi trazida à luz ao ser esculpida, moldada, com luz e
sombra, para ficar diante de nós em uma postura de observação. O templo é
o lugar onde o crente pode encontrar Deus. Mas ali ele também está
escondido, ocultado no santuário interior ou em rituais que apenas alguns
poucos podem decifrar. O templo revela Deus ao ocultá-Lo e esse paradoxo
é simbolizado em sua estrutura e forma. As igrejas, as mesquitas e os
templos ainda expressam esse sentimento, mesmo para aquele que entra
neles com incredulidade. São lugares assombrados por uma “presença