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A alma do mundo - Roger Scruton

conservadorismo filosofia política

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o mais significante — precisamente, o desenvolvimento da linha musical, o

modo em que cada momento abre o caminho e é respondido pelo próximo

patamar — seria apenas acidentalmente uma parte do que a música

significa, e, nesse caso, seria difícil de argumentar que o significado é o que

deve ser apreendido se você for entender a música. Vejamos o obbligato no

solo de violino em “Erbarme Dich mein Gott”, de Bach, e como ele deve

ser tocado de modo a “capturar” o sentido — a subida até o ré inicial, a

entonação suplicante do lá no topo, na segunda nota, o respiro no final da

nota que a conclui, e logo depois a descida cambaleante: todos esses

eventos musicais são impulsionados pelo movimento harmônico e

melódico, através do qual o significado extramusical é aprofundado e

desenvolvido.

A segunda sugestão é que a nossa reação a essa intencionalidade

percebida não deve ser vista em termos puramente cognitivos. Não se trata

apenas de reconhecimento, mas de uma espécie de compaixão — um

“emocionar-se” com a linha musical, e ficar emocionado por ela. Aqui

devemos relembrar o raciocínio de que o movimento musical acontece em

um espaço fenomenológico, estruturado por uma causalidade puramente

virtual, e que som nenhum se move verdadeiramente de um lugar a outro no

espectro musical. Ainda assim, esse movimento é algo que inelutavelmente

escutamos. Nós nos movimentamos com a música e reagimos às forças que

soam dentro dela. Novamente, há uma intencionalidade ampliada na nossa

resposta aos tons musicais — ouvimos além deles, por assim dizer, à

subjetividade revelada por eles. Mesmo assim, é uma subjetividade sem um

nome. A menos que existam palavras ou um contexto dramático para nos

dizer de quem é essa voz, a música parece vir até nós do nada e de ninguém

em particular.

Dançando com a música

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