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A alma do mundo - Roger Scruton

conservadorismo filosofia política

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alguma forma a seu domínio da autorreferência e da autopredicação. Os

monitores interiores, localizados no cérebro ou em qualquer outro lugar,

não são “criaturas que usam a linguagem”: eles não entram na sua

competência por meio da participação na rede linguística. Assim, não

podem possivelmente ter competências que derivam do uso da linguagem e

que estão entronizadas e dependentes da gramática profunda da

autorreferência.

Isso não significa negar que há, em algum nível, uma explicação

neurológica do autoconhecimento. Deve haver, assim como deve haver uma

explicação neurológica de qualquer outra capacidade mental revelada no

comportamento — embora não necessariamente uma explicação completa,

uma vez que o sistema nervoso é, afinal de contas, apenas uma única parte

do ser humano, que é incompleto como uma pessoa até ser levado a

desenvolver relação com o mundo ao seu redor e com outros da sua espécie

(pois, como argumentarei em seguida, a personalidade é uma característica

relacional). Mas essa explicação não pode ser enquadrada nos termos

emprestados diretamente da linguagem da mente. Ela não estará

descrevendo pessoas, mas gânglios e neurônios, sinapses digitalmente

organizadas e processos que são apenas figurativamente descritos pelo uso

de linguagem mental do mesmo modo que o meu computador é apenas

figurativamente descrito quando me refiro a ele como infeliz ou zangado.

Sem dúvida há uma causa neurológica para “pensamentos enxertados”, mas

ela não será enquadrada nos termos de pensamentos no cérebro que, de

alguma forma, estão conectados erroneamente no monitor interno. É

provável que não haja um modo em que nós possamos, ao olharmos

profundamente, adivinhar qual seria a desordem neural que os cria.

Palavras como “eu”, “escolher”, “responsável” e assim por diante não

têm qualquer participação na ciência neurológica, o que pode explicar por

que um organismo pronuncia essas palavras, mas não pode oferecer nenhum

conteúdo material sobre elas. De fato, um dos erros mais recorrentes na

neurociência é o de olhar para os referentes dessas palavras — em busca do

lugar no cérebro onde o self reside, ou então o correlato material da

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