You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
alguma forma a seu domínio da autorreferência e da autopredicação. Os
monitores interiores, localizados no cérebro ou em qualquer outro lugar,
não são “criaturas que usam a linguagem”: eles não entram na sua
competência por meio da participação na rede linguística. Assim, não
podem possivelmente ter competências que derivam do uso da linguagem e
que estão entronizadas e dependentes da gramática profunda da
autorreferência.
Isso não significa negar que há, em algum nível, uma explicação
neurológica do autoconhecimento. Deve haver, assim como deve haver uma
explicação neurológica de qualquer outra capacidade mental revelada no
comportamento — embora não necessariamente uma explicação completa,
uma vez que o sistema nervoso é, afinal de contas, apenas uma única parte
do ser humano, que é incompleto como uma pessoa até ser levado a
desenvolver relação com o mundo ao seu redor e com outros da sua espécie
(pois, como argumentarei em seguida, a personalidade é uma característica
relacional). Mas essa explicação não pode ser enquadrada nos termos
emprestados diretamente da linguagem da mente. Ela não estará
descrevendo pessoas, mas gânglios e neurônios, sinapses digitalmente
organizadas e processos que são apenas figurativamente descritos pelo uso
de linguagem mental do mesmo modo que o meu computador é apenas
figurativamente descrito quando me refiro a ele como infeliz ou zangado.
Sem dúvida há uma causa neurológica para “pensamentos enxertados”, mas
ela não será enquadrada nos termos de pensamentos no cérebro que, de
alguma forma, estão conectados erroneamente no monitor interno. É
provável que não haja um modo em que nós possamos, ao olharmos
profundamente, adivinhar qual seria a desordem neural que os cria.
Palavras como “eu”, “escolher”, “responsável” e assim por diante não
têm qualquer participação na ciência neurológica, o que pode explicar por
que um organismo pronuncia essas palavras, mas não pode oferecer nenhum
conteúdo material sobre elas. De fato, um dos erros mais recorrentes na
neurociência é o de olhar para os referentes dessas palavras — em busca do
lugar no cérebro onde o self reside, ou então o correlato material da