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A alma do mundo - Roger Scruton

conservadorismo filosofia política

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com conhecimento imediato de um domínio interior, que define o meu

ponto de vista no mundo. Mas isso pressupõe que eu existo em um mundo

de objetos ao qual posso me referir e com o qual eu me identifico como se

fosse um outro diferente de mim. Por sua vez, a referência ao redor

pressupõe outras pessoas com as quais eu compartilho uma linguagem e,

portanto, uma perspectiva em primeira pessoa. E a linguagem pressupõe um

mundo compartilhado, um Lebenswelt, no qual os outros são representados

como sujeitos iguais a mim. Em suma, a autoconsciência pressupõe todos

aqueles estágios “tardios” de alienação do outro, e de reconciliação com o

outro, como eles são descritos na narrativa de Hegel.

Liberdade

Assim, a história da liberdade pode ser escrita de duas maneiras. De acordo

com a versão do “mito de origem”, o sujeito livre começa com uma

liberdade original, que é imediata e “indeterminada”. Essa liberdade é,

como Hegel coloca, a “bei sich selbst” do eu: uma mera autossuficiência. i A

liberdade pode se tornar real e determinada apenas se for exercida em um

mundo que é diferente e que está fora da subjetividade do agente. Até

acontecer em um mundo objetivo, a liberdade é um sonho, não apenas um

exercício de escolha racional, muito menos uma forma de autodeterminação

e de autoconhecimento. Mas o sujeito, ao exercer sua liberdade no mundo

dos objetos, entra em conflito com outros que fazem o mesmo. Nesse

conflito, cada um olha o outro como um obstáculo, um objeto a ser

subjugado. Em outras palavras: os sujeitos começam a tratar uns aos outros

como objetos. Sendo objetos um para o outro, cada um se torna um objeto

para si mesmo, entrando no estado de alienação no qual o valor da liberdade

é como que velado pela necessidade e pelo apetite. O mundo alienado é um

mundo no qual o agente não encontra valor em seu próprio ser e nenhuma

razão para suas ações, que são compelidas a ele em virtude da pressão dos

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