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A alma do mundo - Roger Scruton

conservadorismo filosofia política

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O primeiro desses pensamentos encontra confirmação na música. Sugeri

que a nossa cultura musical requer uma resposta a uma subjetividade que

está além do mundo dos objetos, em um espaço próprio. A música se dirige

a nós, assim como os outros se dirigem a nós. É claro que o sujeito musical

é algo puramente imaginado, assim como o “espaço inútil” no qual ele

ressoa. Ele surge diante de nós como um direcionamento sem nome, uma

intencionalidade sem objeto, o sujeito o qual não tem outra realidade além

desta. Apesar disso, a música se dirige a nós além das fronteiras do mundo

natural.

O segundo desses pensamentos foi sugerido em diversos pontos do meu

raciocínio. A ordem da aliança, sugiro, não pode ficar sozinha como uma

fundação das comunidades humanas duráveis. As sociedades sobrevivem

quando estão assentadas, e o assentamento depende da devoção e do

autossacrifício. A relação eu-você abriga gerações ausentes e outras que não

estão claramente manifestas entre nós. E isso nos leva a fazer sacrifícios em

nome de pessoas que não podem ter essa relação por meio de uma promessa

recíproca. Através dos vínculos “transcendentais” de piedade, entramos no

domínio das coisas sagradas, das obrigações que não podem ser explicadas

em termos de qualquer acordo que fizermos, e que falam de uma ordem

eterna e sobrenatural. E então surge a questão: os nossos encontros com o

sagrado são, em algum sentido, verídicos? Colocando a questão de maneira

simples: será que o sagrado é meramente uma invenção humana, ou ele vem

até nós de Deus?

Arte, literatura e a história registrada da humanidade contam a história

dos nossos anseios religiosos e da nossa busca pelo ser que pode respondêlos.

De onde surge esse anseio? Na ordem da aliança, o amor pelo próximo

cresce para preencher as lacunas entre os nossos acordos. A rede de alianças

nos une em fios seguros, e isso é conforto suficiente? O fato de a nossa

intencionalidade interpessoal se estender em regiões mais metafísicas não é

mais da nossa alçada. Ou, na melhor das hipóteses, o ateu pode nos

conceder, podemos vê-la como uma adaptação, um resíduo de um antigo

sentimento de insegurança que nos faz sempre buscar um amigo ou uma

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