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dar e aceitar motivos para acreditar no que acredito, fazer o que faço, e
sentir o que sinto.
Fichte e Hegel desenvolveram esses mesmos pensamentos para fornecer
um novo olhar para a condição humana. A consciência imediata que
caracteriza a posição do sujeito é, como argumentou Hegel, abstrata e
indeterminada. Não envolve nenhuma determinação concreta do que seria
conhecido ou pretendido pelo sujeito. Se fôssemos sujeitos puros, existindo
em um vazio metafísico, tal como imaginou Descartes, jamais
avançaríamos ao ponto do conhecimento, nem mesmo do conhecimento de
nós mesmos, muito menos seríamos capazes de pretender determinada
meta. Nossa consciência continuaria abstrata e vazia, uma consciência de
nada determinado ou concreto. Mas como um sujeito transcendental, não
fico meramente no limite do meu mundo. Eu encontro outros dentro deste
mundo. Eu sou eu para mim mesmo apenas porque, e na medida em que, eu
sou você para outro. Portanto, devo ser capaz de ter um diálogo livre no
qual assumo a minha presença diante da sua presença. Isso é o que significa
entender o exemplo de primeira pessoa. E é porque eu entendo esse
exemplo que tenho uma consciência imediata da minha condição. A posição
que, para Kant, define a premissa da filosofia, e a qual está pressuposta em
todo argumento, também se apoia na pressuposição — a pressuposição do
outro, daquele com quem estou em competição e em diálogo. O “eu” requer
o “você”, e os dois se encontram em um mundo de objetos.
Essa sugestão é exemplificada por Hegel em uma série de parábolas
sobre a “realização” do sujeito — a sua Entäussereung, ou objetificação —
no mundo dos objetos. Algumas dessas parábolas (fico relutante em chamálas
de argumentos) são discutidas na literatura da ciência política; a mais
famosa delas é a do senhor e do escravo. Muitas transmitem verdades
profundas sobre a condição humana e sobre a natureza social do self.
Contudo, a metafísica idealista à qual a narrativa de Hegel supostamente
nos leva — a metafísica da “ideia absoluta” — não é, me parece, nem
defensável nem completamente inteligível. O sentido duradouro do que
Hegel quer dizer pode ser apreendido, acredito, apenas se aderirmos