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A alma do mundo - Roger Scruton

conservadorismo filosofia política

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dar e aceitar motivos para acreditar no que acredito, fazer o que faço, e

sentir o que sinto.

Fichte e Hegel desenvolveram esses mesmos pensamentos para fornecer

um novo olhar para a condição humana. A consciência imediata que

caracteriza a posição do sujeito é, como argumentou Hegel, abstrata e

indeterminada. Não envolve nenhuma determinação concreta do que seria

conhecido ou pretendido pelo sujeito. Se fôssemos sujeitos puros, existindo

em um vazio metafísico, tal como imaginou Descartes, jamais

avançaríamos ao ponto do conhecimento, nem mesmo do conhecimento de

nós mesmos, muito menos seríamos capazes de pretender determinada

meta. Nossa consciência continuaria abstrata e vazia, uma consciência de

nada determinado ou concreto. Mas como um sujeito transcendental, não

fico meramente no limite do meu mundo. Eu encontro outros dentro deste

mundo. Eu sou eu para mim mesmo apenas porque, e na medida em que, eu

sou você para outro. Portanto, devo ser capaz de ter um diálogo livre no

qual assumo a minha presença diante da sua presença. Isso é o que significa

entender o exemplo de primeira pessoa. E é porque eu entendo esse

exemplo que tenho uma consciência imediata da minha condição. A posição

que, para Kant, define a premissa da filosofia, e a qual está pressuposta em

todo argumento, também se apoia na pressuposição — a pressuposição do

outro, daquele com quem estou em competição e em diálogo. O “eu” requer

o “você”, e os dois se encontram em um mundo de objetos.

Essa sugestão é exemplificada por Hegel em uma série de parábolas

sobre a “realização” do sujeito — a sua Entäussereung, ou objetificação —

no mundo dos objetos. Algumas dessas parábolas (fico relutante em chamálas

de argumentos) são discutidas na literatura da ciência política; a mais

famosa delas é a do senhor e do escravo. Muitas transmitem verdades

profundas sobre a condição humana e sobre a natureza social do self.

Contudo, a metafísica idealista à qual a narrativa de Hegel supostamente

nos leva — a metafísica da “ideia absoluta” — não é, me parece, nem

defensável nem completamente inteligível. O sentido duradouro do que

Hegel quer dizer pode ser apreendido, acredito, apenas se aderirmos

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