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A alma do mundo - Roger Scruton

conservadorismo filosofia política

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adaptação evolucionária”. Argumenta-se que muitos dos nossos hábitos

mais arraigados surgiram durante os anos das comunidades de caçadorascoletoras.

Tal comunidade tinha o benefício da linguagem e dos

instrumentos manuais, mas não tinha o benefício da lei, da religião ou da

agricultura, que apareceriam mais tarde, quando os humanos começaram a

se assentar e a cultivar a terra. Para o psicólogo evolucionista, a natureza

humana é composta, em sua maioria, dessas adaptações profundas, e elas

são mais bem-compreendidas como soluções para os problemas da

sobrevivência em circunstâncias que estão em grande parte desaparecidas.

Uma razão pela qual as civilizações geralmente trataram a natureza

humana como um obstáculo e lutaram contra ela com todas as armas que a

lei, a religião e a moralidade poderiam fornecer é porque lidamos com o

mundo partindo de uma herança genética que, de certa maneira, já

superamos. Os impulsos para destruir o invasor, para expulsar o crítico,

para se submeter ao líder poderoso e para matar, escravizar ou violar o

cativo são, sem dúvida nenhuma, adaptações das condições cruéis nas quais

as tribos competem entre si por bens escassos encontrados nas feras

selvagens e nos desastres naturais. Mas eles rompem o trabalho da

civilização e devem ser canalizados para outras direções ou até mesmo

superados completamente se quisermos florescer como as pessoas

florescem, numa condição de responsabilidade mútua. a A ciência das

origens traça a nossa psicologia para impulsos meramente interpessoais e

que devem ser superados precisamente para nós florescermos como sujeitos

livres e não como animais escravizados por nossos genes.

Então, como podemos explicar a transição da vida do animal humano

para aquela da pessoa humana? Sabemos que a transição ocorreu de fato. E

supomos que ela ocorreu de maneira gradual, como velhas adaptações se

renderam à pressão da reciprocidade social. Mas o resultado final — o

surgimento de sujeitos livres, vinculados a direitos e deveres a outros da

mesma espécie — é uma condição que não pode ser entendida por meio das

leis da biologia. Tal condição surgiu da ordem natural, mas não é uma parte

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