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A alma do mundo - Roger Scruton

conservadorismo filosofia política

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forma, está ligado a eventos e processos que, do contrário, são descritos na

linguagem e em teorias que descrevem a realidade física. Mais complicado,

contudo, é o segundo argumento para um profundo dualismo ontológico: o

da intencionalidade. Ele impressionou tanto Franz Brentano, que, ao colocálo

logo no início do seu livro, propondo-se alinhavar a “psicologia de um

ponto de vista empírico”, se viu incapaz de ir adiante. Pois isso colocava

um obstáculo insuperável para qualquer investigação empírica dos estados

psicológicos. (Ver A psicologia de um ponto de vista empírico, v. 1 — o

volume 2 jamais apareceu.) Simplificando as coisas, os estados mentais —

ou de qualquer forma um conjunto central e crucial desses mesmos estados

— são sobre coisas além de si mesmas, e essa relação de tematicidade

parece não existir na realidade física. Posso pensar sobre o que não existe;

eu posso querer, imaginar e decidir sobre coisas que não possuem um lugar

concebível no mundo físico ou as quais, se de fato existirem ali, podem ser

algo completamente diferente do que eu pensei que fossem. Posso focar os

meus estados mentais em objetos que são indeterminados, mesmo que tudo

o que é real seja determinado, e assim por diante. Logo, como estados

mentais podem ser parte da realidade física, quando estão ligados numa

relação de “tematicidade” que não pode ser seguramente vinculada ao

mundo físico?

Duas respostas contemporâneas a essa questão ajudam a dissipar sua

urgência: as de Daniel Dennett e de John Searle. s Dennett argumenta que

expressões intencionais — como aquelas que envolvem atribuir crenças,

desejos e intenções — têm um papel explanatório. Podemos explicar o

comportamento de um organismo mais facilmente se conceitualizarmos o

seu comportamento desse modo, e, ao fazer isso, tomamos uma “postura

intencional” em relação a ele, interagindo com ele assim como interagimos

um com o outro, perguntando o que ele quer e o que pensa, e assumindo

que, em geral, o que quer é bom para ele mesmo e o que pensa é verdadeiro.

A possibilidade de adotar essa postura intencional, sugere Dennett, de

nenhuma maneira implica que estamos lidando com um objeto não físico,

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