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forma, está ligado a eventos e processos que, do contrário, são descritos na
linguagem e em teorias que descrevem a realidade física. Mais complicado,
contudo, é o segundo argumento para um profundo dualismo ontológico: o
da intencionalidade. Ele impressionou tanto Franz Brentano, que, ao colocálo
logo no início do seu livro, propondo-se alinhavar a “psicologia de um
ponto de vista empírico”, se viu incapaz de ir adiante. Pois isso colocava
um obstáculo insuperável para qualquer investigação empírica dos estados
psicológicos. (Ver A psicologia de um ponto de vista empírico, v. 1 — o
volume 2 jamais apareceu.) Simplificando as coisas, os estados mentais —
ou de qualquer forma um conjunto central e crucial desses mesmos estados
— são sobre coisas além de si mesmas, e essa relação de tematicidade
parece não existir na realidade física. Posso pensar sobre o que não existe;
eu posso querer, imaginar e decidir sobre coisas que não possuem um lugar
concebível no mundo físico ou as quais, se de fato existirem ali, podem ser
algo completamente diferente do que eu pensei que fossem. Posso focar os
meus estados mentais em objetos que são indeterminados, mesmo que tudo
o que é real seja determinado, e assim por diante. Logo, como estados
mentais podem ser parte da realidade física, quando estão ligados numa
relação de “tematicidade” que não pode ser seguramente vinculada ao
mundo físico?
Duas respostas contemporâneas a essa questão ajudam a dissipar sua
urgência: as de Daniel Dennett e de John Searle. s Dennett argumenta que
expressões intencionais — como aquelas que envolvem atribuir crenças,
desejos e intenções — têm um papel explanatório. Podemos explicar o
comportamento de um organismo mais facilmente se conceitualizarmos o
seu comportamento desse modo, e, ao fazer isso, tomamos uma “postura
intencional” em relação a ele, interagindo com ele assim como interagimos
um com o outro, perguntando o que ele quer e o que pensa, e assumindo
que, em geral, o que quer é bom para ele mesmo e o que pensa é verdadeiro.
A possibilidade de adotar essa postura intencional, sugere Dennett, de
nenhuma maneira implica que estamos lidando com um objeto não físico,