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A alma do mundo - Roger Scruton

conservadorismo filosofia política

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autoconsciência, e que a autoconsciência não é a consciência de um tipo

especial de objeto. É evidente que consciência é distinta da autoconsciência

— considere os animais não humanos, muitos dos quais são conscientes,

mas poucos, se é que eles existem, são autoconscientes. Não podemos nos

responsabilizar pelo comportamento dos cachorros e dos gatos se não

admitirmos que eles têm percepções, sensações, assim como atitudes

apetitivas e cognitivas. Todos são estados conscientes — pelos quais

queremos dizer que envolvem a noção do ambiente e da própria condição

da criatura. Ainda assim, não há espaço nas nossas explicações de tais

criaturas para a essência interior da coisa [whatness] ou o quale dos seus

estados mentais, e, embora possamos, com Thomas Nagel, levantar a

questão do que é ser um morcego, não há uma resposta para ser dada em

termos de qualia. o O que Wittgenstein chamaria de “gramática” do “como

é” funciona de outra maneira. A frase não denota uma qualidade

publicamente inacessível de uma experiência; ela resume o que sabemos ao

termos uma experiência e o que imaginamos ao a imaginarmos. “Como é”

refere-se ao “conhecimento pelo entendimento”, e “saber como é” engolir

um caracol é justamente ter engolido um. p Não se trata do sentimento

interior especial, o ser um morcego, da experiência do morcego que nos

diria como é ser um morcego. É a forma de vida do morcego, a qual

conhecemos por observação, mas da qual não podemos participar. Sabemos

que os cachorros sentem dor e que essa experiência é ruim e uma ocasião

propícia para a misericórdia e o resgate. Mas não temos fundamento para

supor que há alguma coisa que acontece com o cão machucado além

daquilo que é observado ao olho da ciência: dor é algo que podemos ver,

assim como vemos alegria, depressão e desejo.

A ideia da “essência interior de uma coisa” [whatness], ou o quale,

ganha vantagem somente do exemplo de autoconsciência — a consciência

das criaturas que, como eu, podem dizer o que estão sentindo, e que

possuem uma percepção imediata e criteriosa do seu próprio estado mental.

É a existência deste “ponto de vista subjetivo”, consagrado no uso do “eu”,

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