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autoconsciência, e que a autoconsciência não é a consciência de um tipo
especial de objeto. É evidente que consciência é distinta da autoconsciência
— considere os animais não humanos, muitos dos quais são conscientes,
mas poucos, se é que eles existem, são autoconscientes. Não podemos nos
responsabilizar pelo comportamento dos cachorros e dos gatos se não
admitirmos que eles têm percepções, sensações, assim como atitudes
apetitivas e cognitivas. Todos são estados conscientes — pelos quais
queremos dizer que envolvem a noção do ambiente e da própria condição
da criatura. Ainda assim, não há espaço nas nossas explicações de tais
criaturas para a essência interior da coisa [whatness] ou o quale dos seus
estados mentais, e, embora possamos, com Thomas Nagel, levantar a
questão do que é ser um morcego, não há uma resposta para ser dada em
termos de qualia. o O que Wittgenstein chamaria de “gramática” do “como
é” funciona de outra maneira. A frase não denota uma qualidade
publicamente inacessível de uma experiência; ela resume o que sabemos ao
termos uma experiência e o que imaginamos ao a imaginarmos. “Como é”
refere-se ao “conhecimento pelo entendimento”, e “saber como é” engolir
um caracol é justamente ter engolido um. p Não se trata do sentimento
interior especial, o ser um morcego, da experiência do morcego que nos
diria como é ser um morcego. É a forma de vida do morcego, a qual
conhecemos por observação, mas da qual não podemos participar. Sabemos
que os cachorros sentem dor e que essa experiência é ruim e uma ocasião
propícia para a misericórdia e o resgate. Mas não temos fundamento para
supor que há alguma coisa que acontece com o cão machucado além
daquilo que é observado ao olho da ciência: dor é algo que podemos ver,
assim como vemos alegria, depressão e desejo.
A ideia da “essência interior de uma coisa” [whatness], ou o quale,
ganha vantagem somente do exemplo de autoconsciência — a consciência
das criaturas que, como eu, podem dizer o que estão sentindo, e que
possuem uma percepção imediata e criteriosa do seu próprio estado mental.
É a existência deste “ponto de vista subjetivo”, consagrado no uso do “eu”,