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A alma do mundo - Roger Scruton

conservadorismo filosofia política

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gosto popular, e, para romper com isso, você tem que estabelecer as suas

garantias políticas de outra maneira. f Nesse aspecto, o triunfo mais notório

foi o do crítico Theodor Adorno, da Escola de Frankfurt, que, vindo como

eLivros para a Hollywood na década de 1930, pagou a ampla hospitalidade

que teve ao desprezar as pessoas que a ofereciam, em particular da indústria

de entretenimento sobre a qual ele acreditava serem escravas. g

O ataque de Adorno ao jazz e à sua influência no cancioneiro americano

não se preocupava diretamente com a música em si — sobre a qual ele

dificilmente tinha uma palavra a dizer. Estava mais preocupado com a

audição, e o que significava essa audição, agora que a comunicação em

massa poderia atrair ouvidos em qualquer lar. Ele acreditava que o ato de

ouvir passara por uma mudança para atender às exigências das melodias

curtas e das progressões harmônicas truncadas que atribuía (sem qualquer

exame, como deve ser dito) às canções feitas no idioma do jazz. Houvera,

como ele avaliou, uma “regressão” no ato de ouvir, um recuo daquelas

grandes aventuras que eram postas diante de nós pela tradição sinfônica

clássica, em direção às exaltações de curto fôlego que exigiam pouco ou

nada como resposta.

Certamente devemos reconhecer que há uma grande diferença entre uma

cultura musical baseada na audição séria sobre longos movimentos que

abrigam um pensamento musical sofisticado e uma cultura musical baseada

na audição de melodias conhecidas e previsíveis, apoiadas em ritmos

mecânicos e harmonias pré-fabricadas, que rapidamente se exaurem no seu

potencial musical bastante esparso. A ascensão de uma nova cultura de

massa não aconteceu somente no domínio da música. Grandes mudanças

sociais e políticas podem ser observadas nessa transição — e é claro que

Adorno estava certo ao perceber isso. Podemos não concordar com o

julgamento crítico de Adorno. Afinal de contas, ele desprezava tudo: não

apenas o jazz, mas o cancioneiro musical americano que nascera dele; a

síntese de jazz com a música de concerto que encontramos em “Rhapsody

in Blue”, de Gershwin; no “Concerto para Piano e Instrumentos de Sopro”,

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